Há algum tempo tenho escrito para as mais diversas publicações e constantemente tenho de me policiar. Os leitores se sentem ofendidos por qualquer coisa e mandam para redação cartas enfurecidas que, se fossem cachorros, morderiam.
Parece que as minorias passaram tanto tempo sendo motivo de piada que resolveram contra-atacar, sejam eles negros, mulheres, idosos, portugueses, papagaios ou políticos.
Uma amiga da faculdade era tão feminista que quando eu puxava o cadeira nos restaurantes, ela me pregava um sermão:
- Você acha que não sou capaz de puxar a minha própria cadeira?
Se eu a elogiasse por ser muito estudiosa, ela retrucava:
- Você quer dizer que não sou inteligente e tenho de estudar mais do que os outros para tirar boas notas?
De lá para cá, a coisa só piorou. Você deve ter muito cuidado com o que fala ou escreve. Hoje em dia até Castro Alves é considerado racista.
Já surgiu até um dicionário do politicamente correto. Segundo ele, não existem mais velhos, e sim idosos. Ninguém mais é negro, e sim cidadão afro-americano. Os cegos passaram a ser deficientes visuais e os garis foram promovidos a agentes de limpeza pública. Até as empregadas domésticas mudaram de nome e agora são secretárias do lar.
A coisa fica mais complicada quando se quer usar uma metáfora. Se você pretende dizer que alguém é burro, esqueça. O burros podem, e certamente vão, processá-lo, pois são burros, mas não são otários.
Há claro, a opção de dizer que o indivíduo é uma porta, mas isso só até portas encontrarem um advogado que aceite seu pagamento em verniz...
Quanto às loiras, não há o que se preocupar. Até perceberem que a coisa é com elas, você já está morto. Mas seus netos podem vir a ter problemas judiciais...
A mesma coisa pode-se dizer dos portugueses, mas com eles pelo menos você pode usar o argumento da tradição. Dizem que a primeira piada de português surgiu quando o primeiro deles tocou o solo brasileiro.
Os papagaios são menos problemáticos. Afinal, eles também são politicamente incorretos. O galo que o diga.
O ideal mesmo é tomar muito cuidado com as palavras e sempre verificar se você pode ser processado pelo que fala ou escreve. Oh, sim! E também não saia por aí dizendo que os meu textos não são bons. Os dois advogados que contratei para me defender andam sem trabalho ultimamente e estou pensando em aproveitá-los para uma missão mais ofensiva, se é que vocês me entendem...
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