segunda-feira, maio 07, 2007
Memorial de Maria Moura
Estou assistindo Memorial de Maria Moura, uma minissérie que passou na Globo no início dos anos 90, adaptado da obra de Raquel de Queiroz. Trata-se de uma das melhores minisséries já apresentadas pela Globo (outra que gosto muito é Agosto, adaptado da obra de Ruben Fonseca).
Um dos destaques é o roteiro enxuto de Jorge Furtado (O homem que copiava) e Carlos Gerbase e a direção de Roberto Farias. Embora na época a TV estivesse engatinhando em técnicas cinematográficas, a direção vai muito além do simples plano e contra-plano, fazendo uma obra esteticamente competente e inovadora para a época.
As atuações são quase todas ótimas, com destaque para Glória Pires no papel principal e para a estréia de Cleo Pires interpretando Maria Moura jovem.
A mini conta a história de Maria Moura, uma mulher que desde pequena tem de defender suas terras de um padrastro que mata sua mãe e a violenta e, principalmente dos Marias Pretas, os primos que querem tomar tudo que é dela. Sem conseguir resistir, Maria foge da fazenda, o Limoeiro, em direção à Terra dos Padres, um local mítico, com de natureza exuberante e água corrente. Nesse processo ela deixa de lado a fragilidade feminina e se torna uma senhora de terras temida e respeitada, com um bando de jagunços fiéis prontos a dar sua vida por ela. Uma espécie de Robin Hood do sertão, Maria Moura acode todos aqueles perseguidos por inimigos poderosos.
Televisão é imagem. Na literatura podemos dizer que tal personagem tem essa ou aquela personalidade. Na TV (assim como nos quadrinhos e no cinema), fazemos isso através dos diálogos, da trilha sonora e, principalmente das imagens. É por isso que nos quadrinhos os vilões são feios e de proporções estranhas: deve ficar claro para o leitor que a moralidades deles é distorcida.
Em Maria Moura sabemos, desde a primeira cena, que os Maria Preta são o oposto da heroína. Enquanto ela é fiel e direta, eles são tortos e traiçoeiros. As roupas andrajosas mostram isso, mas percebemos o fato principalmente nas cenas em que eles estão comendo. Eles comem como porcos, de maneira nojenta, as mãos de unhas sujas, a comida se espalhando pela barba, sujando a roupa, melecando tudo.
Ou seja: as imagens os caracterizam como porcos, física e mentalmente.
A mesma caracterização é feita com Maria Moura. Quando foge do Limoeiro, ela prende o cabelo num turbante, escondendo-os, como se quisesse esconder sua feminilidade. No momento da história em que se apaixona, ela solta os cabelos, como se permitisse ser de novo mulher.
O único senão dessa ótima série é a mania de achar que humizar um herói é fazê-lo ter dúvida de seus propósitos. Maria Moura está o tempo se dizendo indecisa sobre o que está fazendo, sempre relutando, sempre dizendo que gosta de dar ordens, mas que queria alguém que lhe pusesse mando. É até possível que a personagem tivesse tais dúvidas, mas os diálogos não precisam insistir tanto nisso. Um close da personagem, uma música de fundo, como é feito em diversos momentos, poderiam dizer isso melhor do que qualquer diálogo, não ficando tão tão forçado.
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