Uma questão que tem sido levantada nessa campanha é sobre o acerto ou erro das pesquisas do IBOPE. Um determinado candidato tem chamado as pesquisas do IBOPE de malucas e jornalistas têm apontado para ¨erros gritantes¨ do IBOPE na recente eleição em estados como o Rio de Janeiro, em que o instituto teria previsto a ida de Crivela para segundo turno, o que não aconteceu, tendo ido Fernando Gabeira para o segundo turno.
Quem não conhece metodologia científica geralmente não entende como funciona uma pesquisa de opinião, o que pode ocasionar equívocos.
Algo que poucos entendem é que nenhuma pesquisa que lide com seres humanos é exata. Ser humano não é como uma pedra, que obedece a leis absolutas. Pelo contrário, ele muda de atitude, de comportamento, de acordo com as suas necessidades, daí porque ser impossível fazer previsões definitivas. Uma professora, por exemplo, que diga que um aluno vai ser reprovado pode despertar nesse aluno a necessidade de estudar apenas para contrariá-la. Da mesma forma, um resultado negativo numa pesquisa pode fazer o candidato e seus correligionários redobrarem os esforços.
Assim, uma pesquisa nunca mostra dados definitivos. Ela mostra apenas uma tendência e seus dados devem ser lidos assim, como tendência.
Vejamos um exemplo que está sendo muito citado, o possível erro ¨gritante¨do IBOPE no Rio de Janeiro. A última pesquisa, divulgada pouco antes da eleição mostrava o candidato Marcelo Crivela (PRB ) com 19% das intenções de votos. Já Gabeira (PV) aparecia com 17% das intenções de votos. No final, Gabeira é que foi para o segundo turno, com pouco mais de 25% dos votos, enquanto Crivela teve 19% dos votos.
Só quem não sabe ler pesquisa é que poderia achar que o IBOPE errou. Na verdade, lendo as pesquisas do instituto, eu apostaria todas as minhas fichas no Gabeira.
A pesquisa tinha uma margem de erro de 3 pontos, para cima ou para baixo. Isso significa que Crivela estava em algum ponto entre 16% e 21%. Já Gabeira estava em algum ponto entre 14% e 20%. Ou seja, era um empate técnico.
Além disso, uma pesquisa nunca pode ser vista isoladamente. Ela deve ser lida na sua relação com outras pesquisas. Na pesquisa anterior, Gabeira tinha 10% das intenções de votos, enquanto Crivela tinha 25%. Ou seja, as pesquisas mostravam que Gabeira estavam em ascensão (de 10% para 17%), enquanto Crivela estava indo ladeira abaixo (de 25% para 19%). Um candidato que está subindo nas pesquisas tem a tendência de continuar subindo (Lucas Barreto chegou a afirmar que estava ganhando 2% do eleitorado por dia), enquanto um candidato que está caindo tem a tendência de continuar caindo. Como a pesquisa não foi feita no dia anterior à eleição, dava tempo tranquilamente de Gabeira chegar aos 25%. Assim, o resultado do primeiro turno no Rio de Janeiro podia ser deduzido a partir das pesquisas do IBOPE. Bastava uma leitura mais atenta.
Sabemos que existem sim, institutos de pesquisa de fundo de quintal, que fazem pesquisas cheias de falhas propositais, de variáveis intervenientes, como fazer pesquisa no reduto eleitoral de um determinado candidato. Mas não acredito que seja esse o caso do IBOPE, que costuma usar metodologia rigorosa em suas pesquisas, com amostras que refletem o universo dado pelo IBGE.
Claro que todo esse rigor não impede a existência de erro. Karl Poper, um dos mais importantes filósofos do século passado, dizia que é a possibilidade de erro que caracteriza a ciência. Por isso, pesquisas como as do IBOPE devem ser lidas como de fato são: como desenhos de tendências, e não como um espelho da realidade.
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