A estrada da noite conta a história de um astro do rock (Jude) que, ao comprar o paletó de um morto, começa a ser perseguido por seu fantasma, que o culpa pelo suicídio da filha (uma ex-namorada de Jude). O título se refere tanto à morte quanto à fuga do personagem principal, que pega a estrada com Georgia, sua atual namorada, e seus cachorros.
Joe Hill é o pseudônimo do escritor Joseph Hillstrom King, filho do mestre do terror Stephen King. Faz sentido: o sobrenome King traz, inevitavelmente, comparações com o pai, o que pode comprometer a avaliação de um escritor iniciante. Mas, mesmo feitas essas comparações, Hill se sai bem. Seu estilo é um mistura do estilo do pai com o de outros autores, como Neil Gaiman. Ele inclusive cita Alan Moore na epígrafe.
Do pai, Hill herdou a capacidade de criar personagens com os quais o leitor simpatiza. No início, todos os personagens parecem marionetes, chavões: Jude é um roqueiro barra-pesada e grosseiro e Georgia é uma menina desmiolada e fútil. Conforme passam pelas atribulações do enredo, os personagens crescem, ou nós os conhecemos melhor, e aprendemos a gostar e a torcer por eles.
Por outro lado, o autor mostra uma incrível habilidade para esticar a tensão e o suspense sem deixar que a linha se rompa. A forma como ele faz isso lembra mais Hitchock do que King.
Na comparação, Hill perde em um ponto: ao contrário do pai, ele não se preocupa em criar um clima para suas histórias antes de introduzir o fantástico. Em poucas páginas o primeiro ato acaba e os protagonistas já estão envolvidos no conflito. Em King, na página 10 você já gosta dos personagens, mas não sabe exatamente no que eles estão envolvidos. Com Hill é o contrário.
Por outro lado, o crescimento dos personagens é um ponto positivo. Numa visão mais metafórica, podemos dizer que os protagonistas estão sendo perseguidos não só pelo fantasma do paletó, mas por todos os fantasmas de seus passados.
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