No meio da noite. Em meio às estrelas. Quando eles menos esperavam. Foi quando surgiu a luz. Poderia ser um meteorito, não fossem os movimentos matematicamente calculados. Estava aterrissando. Suavemente como uma pluma.
Rubens, Francisco e Letícia levaram alguns segundos para se recuperarem. Estavam ali em vigília, na esperança de verem algum objeto voador não identificado. Mas, no fundo, não esperavam que suas expectativas seriam correspondidas.
Depois de uma breve discussão, resolveram se aproximar do lugar a luz descera. Andaram pelo meio da mata, ferindo a escuridão com suas lanternas de pequeno alcance. À certa altura vislumbraram algo. Uma luz pequena, muito pequena, como uma estrela perdida no meio das flores e cipós. Mas ia aumentando de tamanho à medida em que se aproximava deles. Logo estava na frente deles, transformando-se numa miríade de cores hipnotizante.
Ainda que quisessem, nenhum deles se atreveria a desviar o olhar. Nada mais importava. Nada mais fazia sentido. Nada... apenas a luz rodopiando sobre suas cabeças, entoando canções cromáticas.
Apenas a luz.
***
Rubens acordou sobre algo duro e frio. Tudo à sua volta era branco e iluminado, como se a luz viesse dos próprios objetos. Não havia amarras prendendo seus membros, mesmo assim era impossível movê-los. Tudo que conseguia era movimentar um pouco a cabeça, e foi o que ele fez quando percebeu alguém se aproximando dele.
“Como nas histórias que ouvimos”, o rapaz pensou, ao vislumbrar a criatura. Era branca, muito branca, como um sapo de cavernas. Sua pele era quase transparente. A cabeça avolumava-se acima do pescoço alongado, num visível contraste com o corpo miúdo. Os olhos, grandes e negros. Ficaram se olhando por um bom tempo, a criatura examinando-o, olhando como quem olha por um microscópio. Então outras criaturas se aproximaram, com suas peles quase transparentes e seus olhos curiosos. Rubens não podia vê-los, mas sentia-os próximos. “Não há sombras”, pensou ele. Nem mesmo um único ponto escuro. A luz tomando conta de tudo.
Aplicaram algum líquido sobre sua pele nua e o rodearam de instrumentos. Um pedaço de sua pele foi arrancado. Amostras de sangue e saliva foram recolhidas em receptáculos transparentes. Tudo feito lenta e cuidadosamente. Então mostraram a ele um pedaço de metal flexível. Um recorte quadrado de metal sem qualquer inscrição. Colocaram- no sobre sua cabeça e tudo ficou confuso. Não saberia dizer ao certo o que aconteceu depois. As imagens se sobrepunham, em mosaicos coloridos. Olhos vazados misturavam-se com equipamentos rastreando sua pele. Pele. Olhos. Luz. Sem sombras....
Quando acordou estava num quarto de hospital. Um médico e uma enfermeira olhavam para ele, intrigados.
- Está voltando a si. - comentou o médico. Pode falar comigo?
Teve dúvidas de ser capaz de falar. Há quanto tempo seus lábios não emitiam sons.
- Está desmaiado há mais de 10 horas.
- Onde... onde estou... - balbuciou o rapaz.
- No hospital. Você e seus amigos foram encontrados na floresta pelos guardas florestais. Inicialmente pensamos que estivessem drogados. Fizemos exames. Não havia drogas, mas havia uma substância estranha em seu sangue. Espero que tenham uma boa história. O que estavam fazendo lá?
- Procurando discos voadores...
O médico sorriu, sarcástico. Rubens havia descobertos, há tempos que, quando a verdade parece absurda, o melhor era contá-la, pois mesmo assim ninguém acreditaria.
- Letícia... onde está Letícia?
- Ainda está inconsciente. Num leito... Ei, você não pode se levantar ainda!
- Onde está ela?
Rubens ficou tonto. Por um instante pensou que cairia, mas conseguiu se segurar na beirada da cama. Mesmo com a vista anuviada, conseguiu avistar a moça a poucos metros dali. Foi andando lentamente, segurando-se, temeroso de cair a qualquer instante. Finalmente alcançou o leito da moça. Ela estava lá, parada, imóvel, mas respirando. Ele aproximou o seu rosto do dela e cheirou-a. Depois acariciou sua barriga.
Rubens sabia. De alguma forma ele sabia.
Letícia estava grávida.
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