Era uma festa de 15 anos. Patrícia estava linda, num vestido rosa. Rosa era sua cor predileta, por isso toda a ornamentação seguia esse padrão. Os convidados, todos vestidos de gala, conversavam, comiam e bebiam. Houve a valsa e pai e filha brilharam no salão por um bom tempo – tinham treinado durante semanas.
Então chegou a hora do discurso. Tinham construído um tablado e pai e filha subiram ali. Os convidados fizeram silêncio. O pai falava, mas Patrícia não prestava atenção. Sua cabeça estava a mil, girando como no bailado. Tinha vários sonhos, vários projetos, mas todos eles se acabaram num engasgo.
Ela se inclinou sobre si mesma e começou a vomitar. O pai entrou em desespero.
- Um médico, por favor! Um médico!
Várias pessoas se aproximaram. A menina vomitava e se sacudia, como se estivesse tendo um ataque epiléptico. Alguns homens a seguraram. Logo havia um amontoado de pessoas ali, em volta da menina. Então um deles, um homem, soltou um grito e se afastou segurando a orelha. Uma mulher se aproximou e falou com ele, mas ele parecia não ouvir. Por que ele não ouvia? Por que colocava a mão na cabeça daquele jeito, escondendo a orelha? Ela puxou-lhe a mão, mas se arrependeu. Um jato de sangue saltou, sujando-a. A orelha havia desaparecido. No seu lugar, apenas um buraco encharcado.
A mulher gritou e saiu correndo, mas havia muitas pessoas na porta, tentando sair. Ela olhou para trás e viu a debutante, o vestido rosa manchado de sangue. Ela estava sobre o pai, segurando-o. De tempos em tempos abaixava-se e mordia uma parte da pele, arrancando pedaços com os caninos e mastigando.
Alguém se aproximou com um pedaço de pau. O que era aquilo? A perna de uma mesa? O homem desferiu um golpe contra a menina, fazendo com que ela largasse o pai e rodasse duas ou três vezes, indo parar no chão. O homem achou que estivesse desmaiada, mas ela se levantou e avançou contra ele. O cabelo liso e loiro estava sujo de escarlate e o batom se misturava com o sangue. Numa reação instintiva, o homem brandiu o pedaço de madeira como se fosse um bastão de beisebol, acertando a menina na cabeça. Dessa vez, algo pareceu estourar lá dentro e ela desabou no chão, imóvel.
As mulheres ainda soltavam gritinhos de desespero, mas muitos homens começaram a voltar, circulando a menina e o pai. Discutiam, tentando entender o que estava acontecendo. Tinha sido um horror, mas havia acabado.
Então uma senhora começou a vomitar, perto da porta...
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