Estou terminando de ler Vapor Punk, relatos steampunk publicados sob as ordens de Suas Majestades, antologia da editora Draco.
A estética steampunk é uma das grandes inovações da ficção científica. Ao imaginar uma era vitoriana em que a tecnologia do vapor levou o homem a grandes avanços tecnológicos, ela tem dominado o imaginário popular com filmes como A Liga Extraordinária, de Alan Moore e Kevin O´Neill.
A ideia da antologia da Draco era imaginar essa estética do ponto de vista brasileiro e português e o resultado foi muito bom, mostrando que já temos uma geração de grandes autores de FC. Entre os autores, alguns que já acompanho desde a saudosa Issac Asimov Magazine, como Gerson Lodi-Ribeiro e Carlos Orsi, cada um dos quais com ótimas noveletas. Lodi-Ribeiro, um especialista em história alternativa, imagina um Brasil em que Palmares se tornou de fato uma nação graças à aliança com um ser das trevas. Carlos Orsi flerta com a filosofia ao imaginar que as invenções poderiam chegar ao ponto de substituir o homem.
Outro destaque vai para Octavio Aragão, que investiga as consequências sociais de uma explosão tecnológica em plena era da escravidão.
Mas o que mais me chamou atenção até agora foi a novela Os primeiros astecas na lua, de Flávio Medeiros Jr. Flávio imagina uma realidade em que Júlio Verne se tornou ministro da ciência da França e H.G. Wells ministro da ciência da Inglaterra. Como consequência, os dois países deram um enorme salto tecnológico, vivendo uma guerra fria que pode explodir a qualquer momento. Flávio foi vasculhar toda a literatura pop do século XIX para procurar personagens para sua novela. O protagonista, por exemplo, é Mister Prendick, de A ilha do Dr. Moureau. A ele somam-se diversos outros, como Dupin, de Edgar Alan Poe e até Jack, o estripador, que no texto torna-se O homem invisível por sua capacidade de entrar e sair dos locais sem ser notado. O autor consegue encaixar com perfeição todos esses elementos. O que poderia ser uma simples salada literária torna-se um todo coerente, com uma trama bem elaborada e um final surpreendente, mas que já vinha sendo delineado ao longo da narrativa.
Ou seja: uma ótima leitura.
2 comentários:
Valeu, Gian! Fico feliz por ter gostado da noveleta. Foi uma das que mais tive prazer em escrever. Tanto é que tenho uma notícia boa: em 2013 sai, pela Draco, meu romance fix-up "Homens e Monstros - A Guerra Fria Vitoriana". Ele contém o texto publicado na Vaporpunk e outros cinco, todos interligados, ampliando a compreensão da realidade alternativa do texto que você comentou. Com aventuras nas Américas, África e novamente na Europa, o leitor terá uma visão mais ampla através de personagens já citados e outros novos, inclusive de outros autores além de Verne, Wells e Poe, como Stevenson,Conrad,Jack London,etc. A "música de fundo" do livro é a ética e a moral em tempos de guerra. Espero ansioso pelo lançamento, e pela opinião dos leitores. Abraço!!!
Flávio, confesso que no começo fiquei meio desconfiado. Fiquei em dúvida se você conseguiria unir de maneira coerente aquele monte de referências, mas no final você fez isso muito bem. Tudo ficou muito bem costurado. Parabéns. Fico ansioso pelo seu livro. Vai ser uma das leituras obrigatórias de 2013.
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