Li Shizhen carrega em seu nome a marca
do mais importante médico da história chinesa. “Na época do primeiro Li Shizhen
tudo que ele podia usar em métodos simples. Hoje temos todo um leque de
possibildades abertas pela engenharia genética. Hoje podemos moldar o corpo da
pessoa para se adequar ao seu sentimento espiritual”, explica ele, enquanto
caminha pela clínica arborizada, situada na cidade de Pequim.
Li Shizhen começou a se interessar pela
engenharia genética e pelas mudanças corporais quando se deparou, em seu consultório,
com um caso de uma paciente acometida de somatoparafrenia,
uma doença que faz a pessoa acreditar que parte de seu corpo é um ente
estranho. “A mulher não aceitava seu braço direito. Dizia que não era dela”,
lembra “Ela me pediu para retirá-lo. Foi um conflito ético”.
O caso fez com que o
médico pesquisasse outras doenças, como Síndrome da Má Identificação
Delirante, em que a pessoa acredita que está no corpo errado: “Ela nem mesmo reconhece
seu corpo no espelho”, explica. “Há muitos outros casos. Os mais famosos são
pessoas que nascem como homem, mas sentem que sua personalidade é feminina, ou
o contrário. Mudanças de gênero já são comuns na medicina, mas queremos ir um
passo além”.
Uma das inspirações foi a artista francesa Orlan, que já
fez dezenas de operações plásticas, modificando seu corpo de acordo com obras
famosas da pintura. O artista australiano Sterlac também serviu de inspiração,
com seu conceito de que o corpo humano está obsoleto. Sterlac chegou, inclusive
a implantar uma orelha em seu braço. “Hoje, com o avanço da medicina, podemos
modificar o corpo e adequá-lo à necessidade psicológica da pessoa”, explica
Shizhen.
A ideia dos pets surgiu da sugestão de que alguns dos
pacientes se identificavam com animais. “Há pessoas que se sentem cachorros,
gatos e querem viver essa experiência híbrida de serem, ao mesmo tempo, humanos
e animais de estimação”.
Acusado de estar brincado de deus, o médico rebate: “Nós
começamos a brincar de Deus quando fizemos as primeiras próteses. O que estamos
fazendo agora em termos de medicina estética é apenas uma consequência das
primeiras próteses de silicone”.
Uma das primeiras pacientes a passarem pela transformação
será a catarinense Patrícia Swzen. Desde pequena ela se sente que está no corpo
errado. “Eu sempre me identifiquei com animais, em especial com cachorrinhas.
Sempre quis viver como um animal de estimação”. Patrícia é casada há cinco anos
com um empresário local que não quis se identificar. Apesar de ter estranhado
no início o desenho da esposa de se transformar em um híbrido de humano com
canídeo, ele diz que passou a aprecia a ideia: “Tenho certeza de que ela vai
ficar linda e vou continuar amando-a. Se isso a faz feliz, tem todo o meu apoio”.
Patrícia está tendo a
consultoria de psicólogos e fazendo exames pré-operatórios. A cirurgia está
marcada para o início do mês de julho deste ano.
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