sábado, junho 25, 2016

Escola sem partido: séculos de atraso

O Brasil está prestes a aprovar leis estaduais, municipais e federais do chamado movimento escola sem partido (alguns deles de autoria da família Bolsonaro). É um dos fatos mais preocupantes dos últimos tempos - a longo prazo mais preocupante inclusive do que a crise econômica ou política - mas parece que a maioria das pessoas não se tocou do que está acontecendo. 
Claro, qualquer pessoa normal seria favorável a um projeto que proibisse a partidarização das escolas. Pedir votos em sala de aula para determinado candidato, por exemplo. Mas o que está sendo aprovado não é isso, são leis que deixam em aberto propositalmente para que qualquer coisa possa ser denunciada.
Segundo o Movimento Escola sem partido, os professores não podem ensinar nada que vá contra as convicções ideológicas e religiosas dos alunos. Mais: se tocar em um assunto polêmico, deve aceitar com válidos todos os posicionamentos sobre o assunto. Todos.
Durante séculos a escola ensinou coisas como "A terra é o centro do universo e o sol gira ao redor da terra" ou "O mundo foi criado em seis dias e no último Deus descansou". A grande revolução aconteceu no final da Idade Média, quando a escola começou a ensinar ciência. O que era ensinado nas escolas era aquilo que era aceito pela comunidade científica. O resultado disso: os países que mais rapidamente aderiram a esse novo tipo de escola foram os países que tiveram maior evolução científica, tecnológica e econômica.
Quando mais educação científica, mais avanço. Assim, no século XIX houve mais avanços científicos do que em toda a história da humanidade. Nas duas primeiras décadas do século XX houve mais progresso científico do que em todo o século anterior. Hoje, em um ano temos mais avanço técnico e científico do que em todo o século XIX.
Países que não aderiram a esse novo tipo de escola ficaram na periferia desse crescimento.
O que a Escola sem Partido propõe é voltarmos à escola antiga, em que uma teoria da conspiração ou uma convicção religiosa qualquer tem tanta relevância quanto o conhecimento científico elaborado por especialistas e aceito pela comunidade científica. Assim, a teoria da evolução tem tanta relevância quanto o criacionismo e quanto a teoria de que fomos colonizados por alienígenas.

Professores de geografia vão ser obrigados a ensinar também que a terra é plana.
Todo o conhecimento científico sobre o nazismo vai ter o mesmo valor em sala de aula de quem diz que o nazismo era de esquerda ou que o nazismo era budista (sim, a suástica é um símbolo budista) ou que os nazistas eram espíritas como já vi uma pessoa dizendo.
Imaginem como será essa escola em que qualquer bobagem vai ter o mesmo valor do conhecimento científico pesquisado e consolidado.
Isso é muito mais preocupante que a crise econômica. Crises passam. Um país atrasado cientificamente viverá uma era de trevas num mundo de evolução cada vez mais constante. Seremos sempre apenas mão-de-obra barata para os países evoluídos tecnologicamente.
Esse é o futuro que nos reserva o projeto Escola sem partido.


PS: Curiosamente, os adeptos do movimento escola sem partido querem colocar Bíblias em todas as escolas, o que diz muito sobre tudo isso. A Bíblia é vista por eles como a verdade que ultrapassa o conhecimento científico.

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