quarta-feira, setembro 07, 2016

Blecaute e Uivo: uma comparação

O leitor Rodolfo Neto publicou em sua página no Facebook uma interessante resenha sobre O Uivo da Górgona, comparando-o com o livro Blecaute, de Marcelo Rubens Paiva.
Confira abaixo:

Quando eu tinha meus 16 anos mais ou menos tive contato com um livro chamado “Blecaute” escrito pelo Marcelo Rubens Paiva, o livro conta a história de três amigos que, quando voltam de um acampamento, descobrem que a cidade de São Paulo simplesmente paralisou no tempo. Dali em diante eles precisam recomeçar as suas vidas e lidar com a desolação de serem as únicas pessoas no mundo inteiro. O livro todo me chamou atenção por ser uma ficção pós-apocalíptica que se passa no Brasil, tratando de espaços em que o leitor pode facilmente reconhecer.

Agora, fazendo minhas leituras do material que comprei no GorpaCon 2016, me deparo com o “Uivo da Górgona” escrito pelo Gian Danton. O livro apresenta um grupo de pessoas que precisa sobreviver em uma cidade que foi totalmente dominada por seres errantes e sem vontade própria. Mas, enquanto em “Blecaute” o clima é de total perda de sentido da vida, no livro do “Uivo...” existe uma urgência motivada pelo instinto de sobrevivência desde as primeiras páginas, o que faz com que o livro seja tenso – algumas mortes acontecem quando você menos espera – e ao mesmo tempo rápido já que tanto os personagens quanto o leitor aprendem a ficarem em alerta para os perigos que rondam a cidade. O que me chamou mais atenção no livro é que em vários momentos eu me peguei pensando que algumas daquelas situações não acontecem apenas em ambientes extremos, mas que, diante do conforto do dia a dia, nós escolhemos não dar muita atenção pra certas coisas. Seja uma coisa bacana quando uma personagem diz que, devido a necessidade, começou a prestar mais atenção no cheiro das coisas ou mesmo casos de violência familiar que nós decidimos simplesmente não pensar muito a respeito.
Tanto “Blecaute” quanto “O Uivo da Górgona” conseguem chamar atenção por pensarem num Brasil apocalíptico, algo que a maioria dos leitores não está acostumado em ver. Mas, particularmente, o que me chama atenção em ambos os livros é que no fim das contas é que é um livro sobre pessoas. Sobre perda, ilusão e autodescobrimento. No fim o apocalipse é apenas o pano de fundo para uma jornada de descobrimento e amadurecimento das personagens e do próprio leitor. Sendo uma leitura recomendada para todos aqueles que apreciam uma boa ficção pós-apocalíptica com altas doses de desolação e questionamento moral.

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