segunda-feira, outubro 03, 2016

Conflito de gerações


Observe os animais. Todos fazem a mesma coisa que todos os outros de sua espécie fizeram. Gatos caçam ratos da mesma maneira que seus pais e avós. Castores constroem represas da mesma maneira que seus ancestrais. Por mais elaborada que seja a realização animal, ela será sempre igual às das gerações anteriores.

Existe um único animal que inova e faz coisas diferentes a cada geração: o ser humano. Nós vivemos em um mundo muito diferente de nossos pais e nossos filhos viverão em um mundo muito diferente do nosso. Tudo muda: os meios de transporte, os meios de comunicação, a forma de produzir alimento, os comportamentos, tudo.

E qual a chave dessa característica? O que faz com que sejamos uma espécie tão inovadora? A resposta está na infância estendida, ou, como chamamos, adolescência.

O filósofo Thomas Kuhn identificou que quase todas as grandes revoluções científicas foram feitas por jovens cientistas, pessoas que ainda não estavam comprometidas com o paradigma vigente.
Essa inovação vem no bojo de inovações culturais e sociais e, claro, gera um conflito com a geração anterior.

Isso é muito bem exemplificado na história da literatura brasileira: românticos surgiram do conflito com os arcadistas. Realistas surgiram do conflito com os românticos e assim por diante.

Um exemplo mais recente: o movimento da contracultura das décadas de 1960 e 1970 trouxe um sério conflito com as gerações anteriores, com inovações de comportamento, mas também inovações tecnológicas – não há como dissociar uma coisa da outra. A Aple, por exemplo, surgiu dentro do espírito da contracultura, e tinha sua filosofia marcadamente influenciada pela contracultura.

Se não fosse esse conflito de gerações, o fato de cada nova geração inovar a forma como as coisas são feitas, ainda viveríamos nas cavernas, usando pedras como instrumento de caça e desconhecendo o fogo.


Curiosamente, o conflito de gerações, algo que sempre existiu na espécie humana e que na verdade, é o motor da evolução humana, é visto como algo negativo pelos adeptos do escola sem partido. Para eles, filhos devem ser uma cópia xerox de seus pais, seguindo exatamente os mesmos princípios morais, modo de vida etc. Pior: para eles, se existe conflito de gerações, a culpa é da escola e dos professores (de certa forma é: é exatamente esse período a mais de aprendizado que nos permite inovar com relação à geração anterior). Mas o que seria da espécie humana sem isso? Sem as inovações trazidas pela juventude talvez não tivéssemos ainda nem mesmo a roda. 

Sem comentários: