Observe os animais. Todos fazem a mesma coisa que todos os
outros de sua espécie fizeram. Gatos caçam ratos da mesma maneira que seus pais
e avós. Castores constroem represas da mesma maneira que seus ancestrais. Por
mais elaborada que seja a realização animal, ela será sempre igual às das
gerações anteriores.
Existe um único animal que inova e faz coisas diferentes a
cada geração: o ser humano. Nós vivemos em um mundo muito diferente de nossos
pais e nossos filhos viverão em um mundo muito diferente do nosso. Tudo muda:
os meios de transporte, os meios de comunicação, a forma de produzir alimento, os
comportamentos, tudo.
E qual a chave dessa característica? O que faz com que
sejamos uma espécie tão inovadora? A resposta está na infância estendida, ou,
como chamamos, adolescência.
O filósofo Thomas Kuhn identificou que quase todas as grandes
revoluções científicas foram feitas por jovens cientistas, pessoas que ainda
não estavam comprometidas com o paradigma vigente.
Essa inovação vem no bojo de inovações culturais e sociais e,
claro, gera um conflito com a geração anterior.
Isso é muito bem exemplificado na história da literatura
brasileira: românticos surgiram do conflito com os arcadistas. Realistas
surgiram do conflito com os românticos e assim por diante.
Um exemplo mais recente: o movimento da contracultura das
décadas de 1960 e 1970 trouxe um sério conflito com as gerações anteriores, com
inovações de comportamento, mas também inovações tecnológicas – não há como
dissociar uma coisa da outra. A Aple, por exemplo, surgiu dentro do espírito da
contracultura, e tinha sua filosofia marcadamente influenciada pela
contracultura.
Se não fosse esse conflito de gerações, o fato de cada nova
geração inovar a forma como as coisas são feitas, ainda viveríamos nas
cavernas, usando pedras como instrumento de caça e desconhecendo o fogo.
Curiosamente, o conflito de gerações, algo que sempre existiu
na espécie humana e que na verdade, é o motor da evolução humana, é visto como
algo negativo pelos adeptos do escola sem partido. Para eles, filhos devem ser
uma cópia xerox de seus pais, seguindo exatamente os mesmos princípios morais,
modo de vida etc. Pior: para eles, se existe conflito de gerações, a culpa é da
escola e dos professores (de certa forma é: é exatamente esse período a mais de
aprendizado que nos permite inovar com relação à geração anterior). Mas o que
seria da espécie humana sem isso? Sem as inovações trazidas pela juventude
talvez não tivéssemos ainda nem mesmo a roda.
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