A revista Mad foi
a única que sobreviveu à caça aos quadrinhos da EC Comics, além de ser uma das
publicações mais rentáveis de todos os tempos, chegando a vender mais de um
milhão de exemplares, mesmo quando as vendas de outras revistas estavam caindo.
O segredo da publicação estava no humor escrachado, que não perdoava ninguém. A
Mad era tão irreverente que não conseguia anunciantes, vivendo exclusivamente
das vendas em banca.
O criador da
revista chamava-se Harvey Kurtzman. Ele trabalhava para as revistas de terror e
ficção científica da EC Comics, de Bill Gaines. Um dia, sem dinheiro, Kurtzman
procurou o patrão pedindo um empréstimo. Gaines deu um empréstimo, mas em troca
pediu que ele editasse uma revista humorística para aproveitar seu talento
natural para a sátira.
Kurtzman afirma
que criou o nome, mas Gaines garante que o título surgiu numa reunião com All
Feldestien, o outro editor da EC. A revista, que tirava sarro de tudo e de
todos (inclusive dos leitores) estreou em 1952, em formato comics, colorida e
bimestral. Seu humor era ácido e tinha alguns dos melhores desenhistas da época,
como Wally Wood, Jack Davis e Bill Elder. Os quadrinhos eram recheados de
piadas de fundo, num estilo escrachado.
Não foi um sucesso imediato. O tipo de sátira apresentada ali era tão
original que espantou no início, mas as vendas foram aumentando aos poucos. O
sucesso só viria mesmo no número 4, com uma sátira do Super-homem, o
Superduperman.
Logo a Mad estava
vendendo muito bem e satirizando todos os aspectos da cultura pop
norte-americana. As vendas estavam muito bem, mas a caça às bruxas estava à
porta e a saída foi transformar a Mad em um magazine, com formato maior e em
preto e branco. Com essa mudança, ela não era considerada um gibi e, portanto,
não tinha que se adequar ao comics code. Em 1956, todas as publicações da EC
fecharam suas portas e a editora passou a se sustentar apenas com a Mad.
Nesse período,
Kurtzman se desentendeu com Gaines e a revista passou a ser editada por All
Feldestein. Este não tinha um humor tão corrosivo quanto o de Kurtzman, mas
introduziu mudanças que agradaram, como colocar o mascote da revista, o idiota
Alfred E. Newman, em todas as capas.
Aliás, o personagem se tornou tão popular que chegou a ser usado em
protestos contra o presidente George Bush (os dois, aliás, são muito
parecidos). Algumas frase de Alfred E. Newman se tornaram famosas, como "O importante
não é saber, mas sim ter o telefone de quem sabe." ou "Vivemos em uma
época em que os sucos de limão são feitos com limões artificiais e que os
detergentes são feitos com limões verdadeiros."
Em 1961, Gaines
vendeu a revista para o grupo Time-Warner, que passou a publicá-la sob o selo
DC Comics. Mesmo concorrendo com gigantes, como o Super-homem, a Mad continuou
a ser a revista mais lucrativa do grupo. Gaines continuou no controle da
revista até sua morte, em 1992.
No Brasil, a
revista chegou só em 1974, vinte anos depois de ser lançada. A razão do atraso
é que todos os editores achavam que seria impossível traduzir as piadas. Quem
resolveu apostar foi Lotário Vechhi, da editora Vecchi. Para cuidar da edição e
adaptação ele colocou o editor Otacílio d´Assunção Barros, o famoso Ota, que se
tornaria uma referência absoluta da Mad no Brasil.
A entrevista de
emprego para entrar na Vechhi parecia mais uma piada da Mad. Lotário perguntou
ao Ota quais eram os nomes dos sobrinhos do Pato Donald e do cachorro do
Fantasma. Ao final, ele se levantou, apertou sua mão e disse ¨Sr. Otacílio, o senhor foi o melhor
candidato que apareceu aqui até agora. O emprego é seu!¨. ¨Saí de lá descrente,
achando meu futuro patrão completamente imbecil. Qualquer idiota que tivesse
dado as mesmas respostas teria sido contratado do mesmo jeito¨, lembra Ota.
Apesar de tudo, a
maioria das pessoas na Vecchi estava relutante quanto ao sucesso da publicação
e decidiram lançar apenas 40 mil exemplares, e apenas no Rio e São Paulo. Se
não vendesse bem, o encalhe seria mandado para outros estados. Mas Ota fez um
trabalho tão bom que a revista esgotou rapidamente, sendo necessária uma
segunda tiragem de 30 mil exemplares. E as vendas foram aumentando, até se
estabilizarem em 150 exemplares, tornando-se um dos maiores sucessos de vendas
da época. A capa desse primeiro número, com os dizeres ¨quebre em caso de fossa¨,
tornou-se um clássico.
Com o tempo
começou a surgir um problema: a edição americana saía apenas oito vezes por
ano, a brasileira, doze. Além disso, muitas das histórias eram referências a
seriados ou filmes que não haviam saído aqui. A solução foi contratar artistas
nacionais, o que fez com a Mad se tornasse uma reunião do melhor do humor
nacional. Gente como Vilmar, Carlos Chagas e Tako fizeram sucesso na revista,
além do próprio Ota, que, apesar de ter um traço muito ruim, acabou fazendo
sucesso com os relatórios Ota.
Com o fechamento da Vecchi, a revista foi para a Record e
mais uma vez surpreendeu, vendendo muito bem. As vendas só caíram a partir de
meados da década de 1990. Depois da Record, a revista migrou para Mithos e
atualmente é publicada pela Panini no Brasil.
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