Uma das mais interessantes e revolucionárias editoras
de quadrinhos do final dos anos 1960 foi a Edrel.
A editora surgiu de outra, a Pan Juvenil, que devia muito
a agiotas. Os sócios Salvador Bentivegna e Jinki Yamamoto convidaram Minami Keizi,
que havia produzido um álbum de quadrinhos e literatura que tinha forte
influência do mangá (quadrinhos japoneses) para ser sócio na empresa nova
chamada Editora Edrel.
Um artista do interior de São Paulo, Cláudio Seto, foi
chamado para cuidar da revista Humor Negro. Minami Keizi fazia sucesso com seu
personagem Tupãzinho, com roteiro dele e desenhos Fabiano Dias. O personagem
era tão popular que o autor chegou a receber convite para publicar pela editora
Abril, mas não quis. Preferiu engordar sua editora investindo no filão
infantil. Seto criou o personagem Flavo para a revista Ídolo Juvenil. Era um
misto de ficção com conto de fadas, criado na esteira do sucesso das revistas
Contos de Fadas e Varinha Mágica, que a editora Outubro havia lançado anos
antes. Mas tanto Humor Negro quanto Ídolo Juvenil haviam chegado nas mãos de
Seto na fase de decadência. Seto reclamou e Minami sugeriu que ele apresentasse
projetos de outras revistas.
O desenhista lembrou-se dos mangás que lia e propôs uma
revista de Ninja e outra de Samurai. O dono da editora gostou e marcou o
lançamento para dali a 30 dias.
Minami gostou do Ninja assim que pôs os olhos no trabalho. Era o
tipo de HQ infantil que ele queria. O mesmo não pode ser dito de O Samurai,
cujos desenhos não lhe pareceram tão bons e tinha como tema o incesto, um tema
indigesto para uma época de censura e ditadura militar.
Eram legítimos mangás brasileiros, lançados três décadas
antes dos mangás se tornarem febre entre os jovens ocidentais.
Para surpresa do dono da editora, a revista que acabou
agradando foi justamente Samurai, destinada ao público adulto. Ninja durou
apenas quatro número e foi cancelada por baixas vendas.
A Edrel tinha como principais artistas descendentes de
japoneses, e foi nela que muitos deles introduziram a linguagem de mangá na
HQB. Além de Seto, havia Paulo Fukue, Fernando Ikoma e Wilson
Hisamoto.
Seto transformou-se um faz tudo da editora. Além de
desenhar e escrever histórias em quadrinhos, selecionava elenco e dirigia a
produção de fotonovelas eróticas da cidade Guaiçara, no interior paulista, em
plena época de ditadura. A produção de seu estúdio chegava a 150 páginas por
mês.
Foi na Edrel que surgiu Maria Erótica, genial criação de
Cláudio Seto. Suas aventuras misturavam aventura, erotismo, humor e mistério e
foram publicadas entre 1970 e 1972, em diversas revistas da Edrel.
A personagem surgiu como coadjuvante da série Zero-Zero
Pinga, uma sátira de James Bond. Era uma repórter do jornal Time is Money, de
uma Guaiçara megalópole. Fazia parceria com Beto Sonhador, um detetive
particular atrapalhado e mulherengo. "A loura Maria é peituda, de pernas
compridas e quadris largos, e desnuda-se com freqüência", define Franco de
Rosa, no livro As taradinhas dos quadrinhos.
A
personagem não agradou às associações das mulheres católicas, que denunciaram a
personagem.
A polícia invadiu a editora, mas, como não encontraram
Seto, que morava no interior do estado, levaram os originais das histórias,
colocando-os numa cela.
A editora, que marcou época por lançar os primeiros gibis
de mangás do Brasil acabou fechando suas portas no início dos anos 1970.
Seto, que morreu em 2008, é considerado o pai do mangá
brasileiro. Recentemente seu Samurai foi homenageado no prêmio HQ Mix (o troféu
apresentava um busto do personagem)
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