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Edgar chegou à cozinha e encontrou
Jonas e Sofia em volta de um copo quebrado sobre o chão. Uma mancha de água se
espalhava ao redor dele. Olhavam para ele como se olhassem para um acidente de
carro.
- Eu, eu fui pegar água para a
menina, mas... – Jonas mostrou as mãos tremendo.
Edgar tentou tranquilizá-lo:
- Não foi nada. Você está nervoso.
Estou tentando ligar. Venham comigo.
O professor voltou para a sala,
agora acompanhado pelos dois. O gancho de telefone estava lá, pendurado, como
uma cobra, soltado um som insistente: tu tu tu...
Edgar pegou-o, apertou o display e
esperou que o sinal surgisse de novo. Então ligou.
O primeiro número que lhe veio à
cabeça, por alguma razão, foi de uma professora, amiga de colegiado. Depois que
discou, ele se lembrou do número da polícia, 190, mas já estava chamando.
(Atenda, atenda, atenda)
O telefone chamou uma, duas, três
e mais vezes, até a ligação cair.
Edgar estremeceu. Isso talvez
significasse que sua amiga...
(não, como eles, não!)
Edgar apertou o display, esperou a
linha e discou o número da polícia.
O telefone chamou duas vezes e
finalmente atendeu.
Houve um segundo de silêncio (que
pareceu uma eternidade). Então ouviu-se uma gravação, uma música instrumental,
que tocou até que a ligação caísse.
Edgar tirou o fone de ouvido e
deixou a mão pender com ele ao longo do corpo, desconsolado.
- Atendeu? – perguntou Jonas, ansioso.
- Nada. Eu tinha esperanças de
que... ah, Deus!
O professor levou a mão ao rosto,
como se tampar os olhos fizesse a realidade terrível desaparecer.
Quando os abriu de novo, Sofie lhe
fazia gestos.
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