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Havia uma pessoa ali, um homem de
cerca de trinta e cinco anos. Vestia uma calça jeans e tênis e uma camisa gola
polo. Estava entrando em uma casa e o portão automático fechava-se. Era uma
pessoa normal e não tinha visto eles!
Jonas começou a gritar e Edgar
levou algum tempo para entender que o outro estava tentando chamar atenção do
desconhecido.
- A buzina! – gritou Alan, lá
atrás.
Edgar acelerou enquanto
pressionava a buzina. Mas quando pararam ao lado do portão, ele havia se
fechado, escondendo o interior
Olharam à volta: era um muro imenso,
de mais de três metros. Havia câmeras lá no alto. Olhos cegos, pensou Edgar.
Não funcionam sem energia. Mas espantou-se ao ver que elas se movimentavam.
Então o portão se abriu com um
estalo.
O enorme portão de metal foi se
abrindo lentamente, revelando um amplo quintal. O proprietário deveria ter
comprado dois terrenos para a casa. O chão da garagem era todo de granito.
Havia um carro branco ali, mas teria espaço para pelo menos dois outros
veículos. O homem estava lá, em pé, com o controle na mão e um sorriso no
rosto.
- Nossa, vocês não têm ideia de
como estou feliz de ver pessoas normais!
Edgar ficou lá, parado e abismado.
O portão abrindo, as câmeras se mexendo, as luzes acesas... aquela casa tinha
energia!
- Melhor vocês entrarem. É
perigoso deixar o portão aberto tanto tempo.
Edgar manobrou para dentro da
garagem e o homem fechou o portão o mais rápido possível. Quando os
sobreviventes saíram, ele estava lá, um sorriso radiante no rosto, as roupas
escrupulosamente levadas e passadas, os tênis brancos.
No meio de toda a confusão dos
últimos dias, Edgar sentia-se um trapo. Provavelmente sua roupa estava suja e
amarrotada e ele duvidava que seu rosto estivesse melhor. Assim, ver aquele
homem era quase como encontrar uma criatura dos sonhos.
- Sejam bem-vindos. – disse ele.
Eu sinceramente achei que todos tinham se transformado naquelas coisas. É muito
bom ver pessoas normais.
O grupo desembarcou e, ao ver a
menina, o homem se abaixou para cumprimentá-la:
- Uma criança! Qual é o seu nome,
menina?
Sofia não respondeu. Olhou para o
homem e depois para Edgar.
- Ela é surda. – explicou o
professor.
- Surda? – repetiu o homem. Isso
explica porque ela não se transformou...
O homem se levantou e fez um
carinho da cabeça de Sofia:
- Seja bem-vinda, menina. Aqui
você está segura.
Edgar adiantou-se e apertou a mão
do desconhecido:
- O nome dela é Sofia. O meu é
Edgar.
- Prazer em conhece-lo, Edgar. Meu
nome é Roberto.
Edgar apontou à volta:
- Estou impressionado. Achei que a
energia tivesse caído em toda a cidade.
- E caiu. – respondeu Roberto. Eu
tenho um gerador de energia movido a óleo diesel. Enquanto a cidade tiver
combustível, teremos energia. E ainda existem vários postos por aí, apesar de
um deles ter explodido ontem...
- Nós passamos pelo posto. Havia
muita gasolina derramada. O sol deve ter feito o resto...
-
Entendo.
O grupo foi apresentado e Roberto
convidou todos a entrarem em sua casa. Era uma casa limpa e asseada, elegante.
As paredes eram grossas:
- Toda a casa tem isolamento acústico.
Por isso eu não me transformei numa daquelas coisas quando soou o... que nome
dar para aquilo?
- Edgar chama de uivo da górgona.
– explicou Jonas.
- É justo. – disse o outro, após
alguns minutos de reflexão. Vamos, entrem.
O grupo foi entrando, meio
abismado com tudo. Sofia acercou-se, maravilhada, de uma televisão.
- Nenhum canal está pegando, mas
posso colocar desenhos animados e jogos. Ela gosta, não gosta?
Edgar deu de ombros:
- Eu realmente não sei.
- Vamos descobrir. Aqui tenho
tudo. Energia, comida, isolamento acústico. Aqui estarão seguros e alimentados.
Venham, vou lhes mostrar o resto da casa.
O grupo o seguiu, mas Zulmira
puxou Edgar na direção oposta:
- Tem alguma coisa errada nisso
tudo.
-
Como assim? – perguntou Edgar.
- Eu realmente não sei. Mas tudo
isso está bom demais. Perfeito demais. De repente achamos alguém que nos dá
tudo que precisamos. Não acha isso estranho?
- Eu ainda não vi motivos para
desconfiar de Roberto. Ele parece muito simpático e nitidamente está muito feliz
de ver pessoas que não se transformaram em zumbis.
- Esse é o problema. – garantiu
Zu. Ele é simpático demais. Parece um ator numa propaganda. E tem mais uma
coisa: por que ele fez isolamento acústico na casa toda? Você tem ideia de
quanto deve ter custado isso?
- Eu sei muito bem. Fazer apenas
no meu quarto já foi caro. Mas ele parece um homem rico e deve gostar de
silêncio. Eu e você não gostamos da barulheira. Deveríamos ser os primeiros da
dar razão a ele.
- Ainda assim...
Edgar virou-se na direção do
grupo:
- Começo a achar que você é
paranoica.
Zu deu um longo suspiro e seguiu o
professor, resmungando.
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