domingo, maio 28, 2017

O uivo da górgona - parte 65

65
Edgar estava sonhando. Em seu sonho, ele estava em um parque. Lá em cima brilhava um sol forte, mas tranquilizador. Pássaros cantavam nas árvores em uma miríade de tons e acordes. No chão, a relva tinha uma tonalidade de verde claro e luminoso.
O professor olhou à sua volta e viu pessoas sentadas em esteiras e toalhas. Algumas conversavam, outras comiam e bebiam e alguém parecia cantar uma música que se confundia com a orquestra dos pássaros.
Então, lá longe, ele as viu.
Sua mulher e sua filha.
Algo pareceu apertar seu coração, uma mistura de angústia e alegria... e ele começou a correr na direção delas, chamando seus nomes.
Mas elas não o viam e não ouviam.
Ele corria, corria, corria. Mas distância parecia enorme.
Então, em determinado momento, a menina se virou e um sorriso surgiu em seu rosto. Embora estivessem muito longe, ele pareceu ouvi-la:
- Papai!
Agora eram elas que corriam na direção dele e isso o inundou de uma alegria tão grande que o fez chorar. As lágrimas escorriam, soltas, de seu rosto.
                Então, no meio do caminho, tudo mudou. O sol desapareceu, como se uma luz tivesse sido apagada e foi substituída pelas trevas da noite. Já não havia mais parque, relva, pessoas lanchando felizes em esteiras. O cenário era de prédios cinza destruídos, de tristeza e desolação.
As duas continuavam correndo na direção dele, mas a expressão delas havia mudado. Agora estavam em desespero.
Então surgiu o lamento terrível da multidão e dezenas, centenas, milhares de mãos as agarraram e as envolveram numa mistura de sangue e terror.

Edgar acordou assustado. Por um minuto achou que tivesse gritado, mas então percebeu que todos ainda estavam dormindo. Ficou lá, longo tempo, olhando para o teto do cinema, rezando para que o pesadelo não voltasse e lutando contra o sono, até dormir novamente.  

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