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Edgar estava sonhando. Em seu
sonho, ele estava em um parque. Lá em cima brilhava um sol forte, mas
tranquilizador. Pássaros cantavam nas árvores em uma miríade de tons e acordes.
No chão, a relva tinha uma tonalidade de verde claro e luminoso.
O professor olhou à sua volta e
viu pessoas sentadas em esteiras e toalhas. Algumas conversavam, outras comiam
e bebiam e alguém parecia cantar uma música que se confundia com a orquestra
dos pássaros.
Então, lá longe, ele as viu.
Sua mulher e sua filha.
Algo pareceu apertar seu coração,
uma mistura de angústia e alegria... e ele começou a correr na direção delas,
chamando seus nomes.
Mas elas não o viam e não ouviam.
Ele corria, corria, corria. Mas
distância parecia enorme.
Então, em determinado momento, a
menina se virou e um sorriso surgiu em seu rosto. Embora estivessem muito
longe, ele pareceu ouvi-la:
- Papai!
Agora eram elas que corriam na
direção dele e isso o inundou de uma alegria tão grande que o fez chorar. As
lágrimas escorriam, soltas, de seu rosto.
Então, no meio do caminho, tudo
mudou. O sol desapareceu, como se uma luz tivesse sido apagada e foi substituída
pelas trevas da noite. Já não havia mais parque, relva, pessoas lanchando
felizes em esteiras. O cenário era de prédios cinza destruídos, de tristeza e
desolação.
As duas continuavam correndo na
direção dele, mas a expressão delas havia mudado. Agora estavam em desespero.
Então surgiu o lamento terrível da
multidão e dezenas, centenas, milhares de mãos as agarraram e as envolveram
numa mistura de sangue e terror.
Edgar acordou assustado. Por um
minuto achou que tivesse gritado, mas então percebeu que todos ainda estavam
dormindo. Ficou lá, longo tempo, olhando para o teto do cinema, rezando para
que o pesadelo não voltasse e lutando contra o sono, até dormir novamente.
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