sexta-feira, janeiro 05, 2018

Ken Parker, origem


Recentemente li os três primeiros volumes de Ken Parker, em exemplares que pertenceram ao amigo Antonio Eder (quando lhe ofereceram a coleção completa, ele me vendeu os que tinha a preços módicos). Eu confesso que tinha algum preconceito contra os fummetti e foi o Antonio que me fez rever essa visão – justamente com Ken Parker.
É interessante ver a evolução da dupla Berardi – Millazzo ao longo desses três volumes.
No primeiro, “Vingança!”, Berardi não parece Berardi e Millazzo não parece Millazzo. O desenhista parece imitar outros artistas da Bonnelli, mas já dava mostras do traço minimalista e poético que o caracterizaria. No roteiro, embora os índios já fossem vistos de maneira mais humana, não havia a caracterização aprofundada dos mesmos – uma das características fundamentais da série, em especial após o número 5, Chemako. E Ken Parker envolvido numa cruzada de vingança não se parece com o Ken Parker humanista que conquistaria os leitores. Ainda assim, a história se sustenta e tem bons momentos.
Em “Mine Town” temos a já batida situação em que um pequeno grupo de homens enfrentando um bando muito maior em uma cidadezinha, já bastante consagrada em filmes como “Os brutos também amam”. Mas já temos aqui um Berardi mais seguro, se permitindo anedotas visuais como na sequência do cozinheiro chinês que domina o kung fu (curiosamente, uma das primeiras em que Millazzo mostra o seu traço mais solto) ou aquela em que Ken Parker toma banho e corta a barba. Esses dois momentos, cotidianos, já antecipam as razões pelas quais a série se tornaria famosa, ao mostrar um faroeste humanizado, visto muito além dos tiroteios.   

“Os revolucionários” já mostram a dupla em plena forma, embora o traço de Millazzo ainda fosse evoluir muito mais. A história já antecipa elementos característicos de Berardi, como iniciar com uma sequência que não envolve o personagem principal, os diálogos afinados e a trama policial, com direito a Ken Parker ser confundido com um agente da Pinkerton, a famosa agência de detetives. 

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