Recentemente li os três primeiros volumes de Ken Parker, em
exemplares que pertenceram ao amigo Antonio Eder (quando lhe ofereceram a coleção
completa, ele me vendeu os que tinha a preços módicos). Eu confesso que tinha
algum preconceito contra os fummetti e foi o Antonio que me fez rever essa visão
– justamente com Ken Parker.
É interessante ver a evolução da dupla Berardi – Millazzo ao
longo desses três volumes.
No primeiro, “Vingança!”, Berardi não parece Berardi e Millazzo
não parece Millazzo. O desenhista parece imitar outros artistas da Bonnelli,
mas já dava mostras do traço minimalista e poético que o caracterizaria. No
roteiro, embora os índios já fossem vistos de maneira mais humana, não havia a
caracterização aprofundada dos mesmos – uma das características fundamentais da
série, em especial após o número 5, Chemako. E Ken Parker envolvido numa
cruzada de vingança não se parece com o Ken Parker humanista que conquistaria
os leitores. Ainda assim, a história se sustenta e tem bons momentos.
Em “Mine Town” temos a já batida situação em que um pequeno
grupo de homens enfrentando um bando muito maior em uma cidadezinha, já
bastante consagrada em filmes como “Os brutos também amam”. Mas já temos aqui
um Berardi mais seguro, se permitindo anedotas visuais como na sequência do
cozinheiro chinês que domina o kung fu (curiosamente, uma das primeiras em que
Millazzo mostra o seu traço mais solto) ou aquela em que Ken Parker toma banho
e corta a barba. Esses dois momentos, cotidianos, já antecipam as razões pelas
quais a série se tornaria famosa, ao mostrar um faroeste humanizado, visto
muito além dos tiroteios.
“Os revolucionários” já mostram a dupla em plena forma, embora o
traço de Millazzo ainda fosse evoluir muito mais. A história já antecipa
elementos característicos de Berardi, como iniciar com uma sequência que não
envolve o personagem principal, os diálogos afinados e a trama policial, com
direito a Ken Parker ser confundido com um agente da Pinkerton, a famosa agência
de detetives.
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