Cleópatra é uma das figuras mais fascinantes na história.
Sua vida mistura mito e história e tem inspirado pintores, cineastas e
escritores. As dúvidas sobre ela são maiores que as certezas: Ela teria sido
tão bonita quanto Elizabeth Taylor? Teria realmente morrido ao ser picada por
uma cobra?
São essas algumas das perguntas que a jornalista Arlete
Salvador tenta responder no livro Cleópatra, da editora Contexto.
Arlete é jornalista especializada em política e mestre em
relações internacionais pela Universidade de Birmingham, na Inglaterra.
Trabalhou em alguns dos mais famosos órgãos de imprensa do Brasil, como a
revista Veja e os jornais O Estado de São Paulo e Correio Braziliense. Seu
trabalho com os bastidores da política fez com que ela se interessasse pela
lendária rainha do Egito. “Além do aspecto político, a vida de Cleópatra tem
amor, sexo e sedução. A rainha foi amante de dois dos homens mais poderosos do
mundo naquele tempo. Teve um filho com Júlio César, mais velho e maduro do que
ela, e três com Marco Antônio, jovem, audacioso e ambicioso”.
O livro inicia com a desconstrução do mito e é um dos mais
interessantes. Começa com a discussão sobre a morte da rainha. A versão mais
conhecida é a de que ela, prisioneira de Otávio, após a derrota na guerra,
recebe um cesto de frutas nas quais há uma cobra, que a mata. Essa é a versão
do filme de 1963 dirigido por Joseph Leo Mankiewcz.
Por mais inverossímel que pareça, essa é a versão aceita por
vários historiadores.
Plutarco afirma que Cleópatra colecionava venenos e testava
em prisioneiros condenados à morte. Segundo o historiador, ela logo descobriu
que os que matavam mais rápido provocavam mais dor, enquanto os mais suaves
demoravam mais a fazer efeito. Ela teria testado todas as serpentes até
encontrar uma cuja picada induzia a um topor e estremeciemento sem espaços ou
gemidos. A pessoa ia apenas relaxando, até morrer, como se estivesse em sono
profundo.
Mas Plutarco escreveu sobre a rainha muito depois de sua
morte e sua versão pode ser mais baseada em fofocas do que em fatos.
O historiador Cássio Dio, afirma que ninguém sabe ao certo
como ela morreu. “as únicas marcas no seu corpo eram pequenos pontos escuros no
braço. Alguns dizem que ela ofereceu o braço a uma serpente que lhe havia sido
trazida num jarro de água, ou, talvez, escondida em flores. Outros declaram que
ela tinha um camafeu de cabelo com um veneno especial”.
Assim, as versões sobre sua morte são muitas. Uma delas
afirma que ela teria sido assassinada por Otávio ou a mando dele. Como, mesmo
após a derrota, ela não abaixou a cabeça e continuou lutando para readquirir o
poder, seria muito inconveniente para o imperador livrar-se dela.
Outro ponto de polêmica é sobre a beleza da rainha. O fato
de ela ter encantado dois dos homens mais importantes do império romano fazem
com que muitos acreditassem que ela fosse belíssima. As pinturas feitas sobre
Cleópatra, como a de Alexandre Cabanel, a mostram bela e fútil. Mas moedas
encontradas recentemente em pesquisas arqueológicas, a mostram nariguda e feia.
Arlete Salvador lembra que bustos, estátuas e moedas da
época a mostram com representações diferentes. A razão é que esses objetos nem
sempre eram feitos para mostrar o governante como ele de fato era. Sua função
era muito mais política. Se quisesse parecer poderoso e rigoroso, o rei
aparecia com semblante sério. Se quisesse aparecer complacente, era retratado
com a face tranquila e juvenil. O nariz grande, por exemplo, era uma
demonstração de poder. Além disso, como o imperador Otávio usou a estratégia de
denegri-la, argumentando que ela havia enfeitiçado Marco Antônio para que este
se virasse contra Roma, muitas das imagens a mostram como lasciva. Se sua aparência
física gera polêmica, seus atributos intelectuais são uma unanimidade.
Inteligente, charmosa e culta, ela falava oito línguas, inclusive o egípcio,
língua que seus outros parentes que chegaram ao poder nunca se preocuparam em
aprender (Os Ptolomeus praticamente ganharam o Egito quando o império de
Alexandre, o grande, se desmantelou). Ela era versada em filosofia, alquimia e
matemática. Também era uma grande estrategista política, que conseguia dar a
volta por cima mesmo quando parecia derrota, como quando ela, que havia sido
alijada do poder, deu um jeito de entrar no palácio dentro de um tapete e
apareceu numa na frente de Júlio César para seduzi-lo.
É essa figura inteligente, sedutora, esperta e enigmática
que o livro desvenda em detalhes. Um capítulo imperdível é o epílogo, em que a
autora trata da representação da rainha na cultura pop, dos quadrinhos de
Asterix ao filme com Elizabeth Taylor, passando pela musa Theda Bara, com seu
olhar superior, vestes ousada e pose sexy do filme de 1917.
O texto de Arlete Salvador é leve e agradável e a edição é
caprichada, com representação de imagens de filmes, achados arqueológicos e
pinturas.
Certamente não é um livro aprofundado, mas serve como boa
introdução para os que estão interessados nessa enigmática personagem e sua
época.
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