A revisão de literatura não é uma simples relação de obras. É um texto que resume o pensamento dos principais autores que trataram do assunto.
Serve para demonstrar que
o aluno teve contato com os conceitos e teorias básicas sobre o tema e está
preparado para iniciar o trabalho.
Também serve para
demonstrar que ao orientador ou à banca que o aluno não pretende reinventar a
roda (ou seja, fazer uma pesquisa que já foi realizada).
EXEMPLO DE REVISÃO DE LITERATURA
A revisão de literatura abaixo trata do tema
hipótese. Veja como o texto apresenta uma visão ampla sobre o assunto, com
destaque para os avanços mais recentes nessa área de conhecimento.
A visão que positivista da
ciência excluiu a ciência qualitativa em favor de uma ciência empírica de base
indutiva, provavelmente baseada na frase de Newton hypotheses non fingo, “não
formulo hipóteses”. No livro Princípios Matemáticos, no capítulo Escólio geral,
Newton assim se manifestou sobre o assunto:
Mas até
aqui não fui capaz de descobrir a causa dessas propriedades da gravidade a
partir dos fenômenos, e não construo nenhuma hipótese; pois tudo que não é deduzido
dos fenômenos deve ser chamado uma hipótese; e as hipóteses, quer metafísicas
ou físicas, quer de qualidades ocultas ou mecânicas, não têm lugar na filosofia
experimental. Nessa filosofia as proposições particulares são inferidas dos
fenômenos, e depois tornadas gerais pela indução.
(NEWTON,
2000, p. 258)
Assim, a não criação de
hipóteses levava o cientista a lidar diretamente com os fatos, sem
pré-conceitos a respeito deles, numa atitude considerada neutra.
Tal visão foi fundamental
para a epistemologia desenvolvida pelo Círculo de Viena. Essa corrente de
pensamento expressou a convicção de que apenas o método indutivo poderia
diferenciar a ciência do pensamento especulativo da pseudo-ciência (JAPIASSU,
1988).
No método indutivo, o
cientista tem apenas a pergunta, mas não a resposta. Ele pesquisa um assunto
estudando caso após caso, esperando que a ciência lhe dê a resposta na forma de
uma generalização que possa vir a ser aplicada a todos os casos posteriores.
Karl Popper, no entanto,
demonstrou que a via da indução levava a ciência a um impasse. Ele se perguntou
como é possível que casos singulares possam ser usados para a criação de uma
teoria geral.
A essa
questão, Popper responde dizendo que, por maior que seja o número de enunciados
observacionais verificados, não temos o direito de concluir pela existência da
verdade de uma teoria universal. E a razão que ele dá é a seguinte: uma teoria
universal afirma algo que ultrapassa, de muito, aquilo que pode ser expresso
numa enorme quantidade de enunciados observacionais. (JAPIASSU, 1988, p. 94).
Em lugar da indução,
Popper propõe, como princípio científico, o método hipotético dedutivo. “A partir de uma idéia nova, formulada
conjecturalmente e ainda não justificada de algum modo – antecipação, hipótese,
sistema teórico ou algo análogo – podem-se tirar conclusões por meio da dedução
lógica”. (POPPER, 2003, p. 33).
A visão epistemológica de
Popper baseia-se no princípio do falseamento, segundo o qual só é científico o
enunciado que possa vir a ser falseado. Assim, cabe ao cientista realizar uma
hipótese dedutiva e coloca-la à prova. à prova, confrontando-a com os dados
empíricos. “Daí se segue que todo teste genuíno de uma teoria é uma tentativa
de refutá-la. Uma teoria é testável na medida em que for possível dizer em que
condições ela seria dada como falsa.” (CARVALHO, 1994, p. 70)
A partir de Popper, a
hipótese passou a ser parte fundamental do trabalho científico a ponto de
alguns autores afirmarem que um trabalho não é científico se não tiver por base
uma hipótese.
Valdir Viegas afirma que a hipótese é a ferramenta do
cientista:
Hipóteses
desempenham papel importante no processo de pesquisa científica, quer do ponto
de vista pragmático, quer do ponto de vista lógico. Pragmaticamente, a hipótese
é uma garantia de via metódica na busca da explicação, evitando a dispersão do
pesquisador; sob o aspecto lógico, ela tende a conduzir o pesquisador com mais
eficácia até as causas de um fenômeno. (VIEGAS, 1999, p78).
Segundo Köche (2002,
p.109), “O principal objetivo da investigação científica é, justamente, o de
saber se essa sugestão apresentada, isto é, essa hipótese, enquanto enunciado
objetivo e independente do pesquisador, será corroborada ou faseada.”.
Kerlinger (1980, p. 38)
afirma que “Problemas e hipótese são semelhantes. Ambos anunciam relações, só
que os problemas são sentenças interrogativas e as hipóteses são sentenças
afirmativas. Às vezes são idênticos em substância.”. Para esse autor, a
diferença entre os dois está na especificidade. Hipóteses são mais específicas,
o que, aliás, lhes confere a possibilidade de falseamento. Assim, hipóteses
generalistas, como “Vai chover amanhã” não são científicas.
Para Rúdio (2002), a
hipótese deve ter as seguintes características: plausível; consistente;
específica; verificável; clara; simples; econômica e explicativa.
Eva Maria Lakatos e Marina
de Andrade Marconi, no livro Metodologia do trabalho científico, afirmam que as
hipóteses podem ser básica e secundária. “A principal hipótese é denominada
hipótese básica, podendo ser complementada por outras, que recebem a
denominação de secundárias.”(LAKATOS; MARCONI, 1991, p. 104). Para as autoras,
as hipóteses secundárias são afirmações complementares à básica, abarcando em
detalhes o que a hipóteses afirma em geral, englobando aspectos não
especificados na básica, identificando relações deduzidas na primeira,
decompondo em pormenores a afirmação geral e apontando outras relações
possíveis de serem encontradas.
REFERÊNCIAS
CARVALHO, Maria Cecília M. de (Org.). Construindo o saber. Campinas: Papirus, 1994.
CERVO, A. L. ; BERVIAN, P. A. Metodologia
científica. São Paulo: McGraw-hill, 1983.
JAPIASSU, Hilton. Introdução ao pensamento epistemológico. Rio de Janeiro: Francisco
Alves, 1988.
KERLINGER, Fred N. Metodologia
da pesquisa em ciências sociais. São Paulo: EPU, 1980.
KÖCHE, José Carlos. Fundamentos de metodologia científica. Petrópolis: Vozes, 2003.
LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Metodologia do trabalho científico. São Paulo: Atlas, 1991.
NEWTON, Isaac. Princípios
matemáticos, Óptica, o peso e o equilíbrio dos fluídos. São Paulo: Nova
Cultural, 2000.
POPPER, Karl. A lógica da
pesquisa científica. São Paulo: Cultrix, 2003.
RÚDIO. Franz Victor. Introdução
ao projeto de pesquisa. Petrópolis: Vozes, 2002.
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