Os judeus eram as vítimas preferenciais da propaganda
nazista. O objetivo dos filmes da época eram mostrar que eles eram desumanos e
sua convivência com outros povos intolerável.
Todos deveriam odiar os judeus e aqueles que não achassem
suficientes as explicações para tal ódio deveriam se sentir culpados. Os
principais filmes a seguir esse raciocínio foram produzidos justamente na época
em que se planejava a solução final.
O Rothschilds mostra como os judeus fizeram fortuna na
época das guerras napoleônicas, enquanto o povo ficava na miséria. A figura do
judeu por si só devia causar repulsa: tem mãos aduncas, rosto encarniçado,
olhar sádico e vivia sempre às custas dos outros.
O Judeu eterno, de Hippler, um soldado da SS, não
economiza nas tintas. Quando fala da sujeira dos judeus, aparecem moscas na
tela. Quando se refere à forma como os judeus se espalharam pela Europa, mostra
ratos andando por um mapa. Quando diz que os judeus são preguiçosos e só
trabalham sobre pressão, mostra judeus descansando apoiados em pás.
Mas a obra-prima do cinema anti-semita é O judeu Suss, de
Veit Harlan. Realizado com apuro técnico, bom roteiro e direção, o filme evitou
a pecha de anti-semita por desejar ser visto como um filme histórico. No
entanto, a película deturpa completamente a figura histórica de Süss Oppenheimer (1692-1738), conselheiro do
duque Carlos Alexandre.
Na história real, Suss é preso
após a morte do duque pelas corporações que haviam perdido poder durante a
gestão de Carlos Alexandre.
Mas no filme de Harlan essa
trama é escondia. Suss é simplesmente um judeu pérfido, que explora o povo e
quer copular com a heroina loira, jovem e ariana.
Todas as cenas em que aparecem os
judeus são sombrias, como se eles só agissem nas sombras. Quando ele é
enforcado em praça pública e os judeus expulsos da cidade, o céu se abre e cai
neve, como que limpando a sujeira e tomando de branco a cena. De fundo, uma
música religiosa de rendenção.
O protagonista principal foi Ferdinand Marian, no papel
de judeu sombrio e traiçoeiro, que representava um perigo físico e moral para a
sociedade alemã, segundo a ideologia nazista. O papel feminino de destaque foi
assumido por Kristina Söderbaum, a esposa de Harlan, que incorporava como
nenhuma outra as supostas características da mulher ariana: loura, olhos azuis
e raça nórdica.
O filme era considerado tão importante por Goebbels que
seu diretor recebeu recursos ilimitados. Pôde até escolher figurantes judeus
nos guetos.
O filme fez sucesso extraordinário. Não bastassem isso,
ele era assistido obrigatoriamente por todos os soldados alemães nos campos de
concentração, preparando os soldados para o extermínio de judeus.
Seu diretor chegou a ser processado no pós-guerra, acusado de crime contra
a humanidade. Seu filme foi proibido, mas ele conseguiu ser absolvido com o
argumento de o filme tinha sido desfigurado por Goebbels.
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