Um dos
conceitos mais interessantes do marketing é o de pistas de qualidade, ou
qualidade aparente. Esse conceito surgiu da idéia de que o consumidor comum não
tem como avaliar a qualidade técnica de um produto. Só um especialista em
nutrição, por exemplo, pode avaliar com segurança a qualidade de uma refeição.
Só um especialista em eletrônica pode avaliar a qualidade técnica de um
eletrodoméstico.
Mas o
consumidor, quando compra, precisa ter alguma indicação, algo que o ajude a
escolher entre este ou aquele produto. Percebendo isso, os marketeiros
começaram a colocar nos produtos demonstrações visíveis da qualidade técnica.
Isso foi chamado de qualidade aparente, ou pista de qualidade.
Essa
situação foi muito bem exemplificada mais de mil anos atrás, quando surgiu a
suspeita de que a mulher de Júlio César o estaria traindo e ele abriu uma
investigação. Um amigo abordou-o: "Mas, César, você sabe que sua mulher é
fiel". "À mulher de César não basta ser fiel, tem que parecer
fiel", respondeu ele. É possível que a história seja inventada, ainda mais
levando em consideração os costumes sexuais liberais do romanos, mas serve para
demonstrar o conceito: um produto não só tem que ter qualidade, ele precisa
aparentar qualidade.
Por
exemplo, alguém já viu toalhas de hotel de cor escura? Elas são geralmente
brancas, pois numa toalha branca a limpeza é visível. Se houver um mínimo de
sujeira, o consumidor imediatamente identificará.
Uma das
mais famosas lojas dos EUA, a Stew, é especializada em carnes e laticínios. O
dono da loja faz questão que nos banheiros haja sempre flores frescas e que a
limpeza seja impecável. A explicação dele é que, como o consumidor não vê a
produção de seus produtos, o banheiro é um dos maiores indícios da higiene com
que esses produtos são fabricados.
Entrar num
restaurante e encontrar um banheiro sujo, imundo, é uma pista de falta de
qualidade, e são poucos os consumidores conscientes que continuarão no
estabelecimento, pois a falta de limpeza no banheiro provavelmente reflete a
falta de limpeza na cozinha.
Muitas
empresas que trabalham com comida procuram tornar transparentes a produção de
seus produtos. É o caso do McDonalds, cuja cozinha é aberta e fica visível para
o cliente.
No
supermercado, a transparência da embalagem, no caso do feijão, permite ver a
qualidade do produto. É por isso, também, que a água mineral é vendida em
embalagens transparentes ou azuladas (o azul lembra limpeza).
Numa loja,
uma vitrine bem trabalhada, com produtos novos e atraentes, é pista de
qualidade que levará o consumidor a comprar. Ao contrário, uma vitrine com
produtos velhos, amassados, fora de moda ou empoeirados é pista de falta de
qualidade.
Costumo
comprar pão em uma padaria longe de casa, mas que tem toda uma preocupação com
a qualidade aparente. O caixa fica longe dos pães, os vendedores não pegam em
dinheiro e são orientados para usarem touca e luvas. Antigamente usavam um
avental branco. Foi introduzido um novo uniforme, de cor escura, mas a cor
escura não passava a idéia de limpeza e eles voltaram a usar o avental.
Infelizmente,
em Macapá são poucos os empresários como esse dono de panificadora, que se
preocupam com as pistas de qualidade de seus produtos.
O exemplo
mais absurdo que vi foi com um vendedor de batatas fritas na área próxima da
Fortaleza de São José. Além de não usar luvas, toucas ou avental, ele não tinha
uma espátula ou colher para recolher as batatas e colocar no copinho e fazia
isso com a mão... a mesma mão que pegava o dinheiro dos fregueses. O uso de um
colher era medida simples e básica de higiene e, portanto, pista de qualidade
(pelo menos uma, no meio de tantos absurdos).
Vendo
aquilo, eu desisti de comprar a batata. Argumentei que era falta de higiene e
que tal atitude facilitava a propagação de doenças. Isso só fez com que o
vendedor ficasse furioso comigo.
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