domingo, maio 27, 2018

Vamos ser dominados pelas máquinas?


Uma possível revolta das máquinas é tema recorrente na ficção. Do computador Hall às divertidas revoluções robóticas do desenho animado Futurama,(do mesmo americano criador de “Os Simpsons”, Matt Groenig) a ficção científica sempre refletiu o medo humano de que nossa espécie venha a ser suplantada por nossas próprias criações.
                Tal preocupação começou a afligir a humanidade no início do século XX, quando a construção de máquinas de calcular tornou possível a criação de inteligência artificial.
                O filme Inteligência Artificial, de Spielberg, baseado no livro de Brian Aldiss, Superbrinquedos duram o verão todo(e com roteiro cinematográfico de Stanley Kubrick), levanta a possibilidade de no futuro as máquinas não só serem capazes de pensar, mas também de ter emoções.
                Mas será realmente possível criar inteligência artificial? Alguns autores cibernéticos acreditam que sim.
                Em 1950, Alan Turing declarou que uma máquina inteligente seria aquela capaz de conversar com alguém e se fazer passar por um humano. Isso ficou conhecido como teste de Turing. Para ele, no ano de 2000 os computadores passariam facilmente no teste.
                Um marco da busca de inteligência artificial foi a tartaruga Elsie, criada por Grey Walter na década de 50. A tartaruga, um primitivo robô em formato de quelônio e provido de rodas, alimentava-se de luz. Quando estava em um local escuro, ela procurava cômodos em que a lâmpada estivesse acesa.
                Esse robô tinha uma característica essencial dos seres vivos: a busca pela alimentação. Todos os animais e plantas buscam comida. Mas justamente a abrangência do comportamento demonstra que Elsie não era exatamente um exemplo de inteligência artificial. Afinal, até mesmo uma minhoca busca comida.
                Talvez um passo mais interessante tenha sido dado no Brasil, na década de 70. Foi nesse período que o pesquisador Isaac Epstein construiu, com imãs, alfinetes de mapas e caixas de ovos, Gabriela, um computador cuja função era jogar jogo da velha.
                A grande inovação de Gabriela é que ela aprendia. Ela começava perdendo e, no final, sempre empatava ou ganhava.
                Até então aprender parecia ser um comportamento dos animais, em especial os humanos.
                A maneira como Gabriela aprendia também seguia as regras da natureza: através de um processo de tentativa e erro.
                Para cada jogada, Gabriela tem três bolinhas de uma determinada cor. A cada derrota, uma bolinha equivalente à última jogada é retirada, diminuindo as chances dessa jogada voltar a se repetir, mas não as eliminando totalmente. Ou seja, para cada erro, Gabriela é punida, mas a punição não é excessivamente severa.
                Epstein utilizou em seu computador o mesmo método da natureza: ela faz aprimora as espécies fazendo tentativas de mudanças, que podem dar certo ou não, de acordo com a capacidade de adaptação ao novo ambiente.
                Nós humanos também usamos o processo de tentativa e erro para aprendermos. A criança aproxima a mão e a queima. O erro é seguido, portanto, de uma punição (mas não uma punição tão grande a ponto de desencorajar novas tentativas). Com o tempo a criança aprende que pode lidar com o fogo, mas deve ter cuidado com ele.
                Pessoas inteligentes são aquelas capazes de aprender com seus próprios erros.
                Gabriela era, portanto, inteligente, pois conseguia aprender com seus próprios erros.
                Uma outra característica dos seres vivos que foi assimilada pelos entes cibernéticos é a capacidade de auto-reprodução. O vírus de computador é um exemplo perfeito de um ser artificial e auto-replicante. Uma vez instalado em um computador, ele se reproduz e providencia meios de se espalhar para outros computadores (através de disquetes, ou da Internet).
                Poderia-se argumentar que o vírus, quando se auto-reproduz, nada mais faz que seguir uma programação anteriormente inculcada nele.
                Isso é verdade, mas nós também nos reproduzimos porque somos programados para tal. A diferença é que nossa programação é genética.
                O desenvolvimento das pesquisas em inteligência artificial fez com que Ray Kurzweil, o inventor do sintetizador eletrônico, previsse que em 2030 haverá computadores tão evoluídos quanto o David do filme Inteligência Artificial.
                Kurzweil descobriu que desde 1900, quando surgiram as primeiras máquinas de calcular, a capacidade de cálculo dos computadores dobra a cada geração.
                Assim, em 2029, um PC comum teria a mesma capacidade de cálculo de um cérebro humano. Isso, somado ao fato de que nos próximos 30 anos, a ciência terá descoberto tudo sobre o cérebro humano, permitirá a construção de um cérebro eletrônico.
                Além disso, a nanotecnologia permitirá a construção de neurônios artificiais, o que tornariam os cérebros robóticos ainda mais semelhantes aos nossos, com uma diferença: eles estarão ligados à Internet 24 horas por dia, o que lhes daria acesso a grande parte do conhecimento humano instantaneamente. Fazendo um paralelo com a teoria de Jung, a internet seria para os robôs o que é para nós o inconsciente coletivo.
                Como resultado dessa evolução, Kurzweil vê um futuro em que os humanos se tornarão obsoletos.
                Previsões como essa assustaram Bill Joy, o criador do linguagem Java, que tornou possível a internet.
                Para ele, máquinas inteligente(s) e auto-replicantes são perigosas demais porque fugirão do nosso controle.
                No futuro estima-se que grande parte das coisas será feita de nanorobôs, de roupas a paredes das casas. As vantagens são óbvias. Uma roupa nanotecnológica poderá mudar de forma de acordo com a vontade do dono. Se estiver frio, um casaco, se estiver calor, uma camiseta regata. Também será possível acompanhar a moda com muito maior rapidez (razão pela qual a moda, provavelmente, irá passar por modificações cada vez mais aceleradas).
                No conto “Superbrinquedos quando vem o inverno”, de Brian Aldiss, todas as pessoas têm em seus estômagos células Croswell, nanorobôs encarregados de consumir o excesso de gordura adquirida durante a alimentação. Esse “verme” artificial permitiria ao seu hospedeiro comer até cem por cento a mais de comida sem perder a silhueta.
                Tecnologias como essas serão irresistíveis e se espalharão rapidamente, mas se algo der errado, não poderemos fazer muita coisa para consertar a situação.
                E se uma célula Croswell resolvesse consumir também o estômago do hospedeiro?
                Para Bill Joy, em breve viveremos uma ditadura cibernética.
                Opinião absolutamente oposta à de Jaron Lanier, o criador da expressão realidade virtual.
                Para Lanier, nós nunca seremos dominados pelas máquinas em razão do que ele chamou de estupidez artificial.
                As máquinas são estúpidas porque seguem uma programação e não conseguem fugir dela, pois não conseguem perceber em que situações a programação não funciona.
Entretanto, programas como Google tradutor, que aprendem com traduções feitas por humanos podem ser indício de que a inteligência artificial já não é mais tão burra.

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