Em 1984, a editora DC lançou uma versão em
quadrinhos baseada nos jogos de vídeo-games da Atari. Não era a primeira adaptação
de games da Atari, mas esse estava destinado a entrar para a história como um
dos melhores trabalhos da era de bronze dos quadrinhos. A equipe criativa era
composta por dois grandes nomes dos comics: o roteirista Gerry Conway e o
desenhista José Luis Garcia Lopes.
Gerry
Conway, nascido em 1952, começou a escrever quadrinhos ainda na juventude com
histórias para revistas de histórias curtas da DC Comics, como a House of
Secrets, mas seu grande sonho era trabalhar com um título de super-heróis.
Graças a um amigo, ele conheceu Roy Thomas, editor da Marvel, lhe entregou um
argumento e pediu que ele desenvolvesse. Roy gostou do resultado e, com 19
anos, Conway foi efetivado no cargo de roteirista oficial do Homem-aranha.
Apesar
de inseguro no início (as primeiras histórias eram co-escritas com o desenhista
do título, John Romita Senior), Conway logo se destacou e acabou escrevendo
algumas das mais importantes histórias do aracnídeo na década de 1970, entre
elas a controversa morte de Gwen Stacy. Conway foi também, junto com o
desenhista Ross Andru, responsável pela criação do Justiceiro, que surgiria
como personagem secundário na série do Aranha, mas se tornaria um dos mais
populares da Marvel na década de 1980.
Em
meados da década de 1970, ele foi contratado pela DC, onde faria o primeiro
crossover entre as duas maiores editoras do mercado norte-americano: o encontro
de Superman e homem-aranha.
José
Luis Garcia Lopez nasceu na Galícia, mas mudou para a Argentina ainda jovem,
onde leu muito quadrinho norte-americano, especialmente os trabalhos de Alex
Raymond e Roy Crane.
Indo para os EUA, Garcia Lopes
substituiu Joe Kubert na revista Tarzan, o que acrescentaria mais uma
influência seu traço, já que na época era comum um desenhista que entrava num
título imitar o anterior, para os leitores não sentirem o impacto da mudança.
Depois
de trabalhar para a Charlton, ele se fixou na DC Comics, onde desenvolveria um
dos traços mais dinâmicos e bonitos dos comics americanos. Seu visual do
Super-homem atlético praticamente redefiniu a imagem do Homem-de-aço. Uma das
imagens mais famosas, do personagem arrebentando correntes com a simples flexão
dos músculos do peito, é de autoria de Garcia Lopes.
Garcia Lopes foi responsável pelo traço do segundo grande encontro da
década de 1970: entre o Hulk e Batman, com roteiro de Len Wein.
Esquadrão Atari juntava, portanto, dois dos nomes mais importantes da
era de bronze dos quadrinhos americanos. E ambos não decepcionaram. A primeira
história mostrava personagens bastante originais: os mercenários Dart e
Blackjack, o gigante bebê, que é seqüestrado de seus planeta natal, a telepata
Morféa, vinda de uma civilização em que as crianças são criadas sem identidade
(e sempre se refere a si mesmo como “este ser”), o ladrão Paco Rato, o rapaz
Tormenta, que tem a capacidade de se
teleportar e seu pai, Martin Champion, um homem obcecado com a idéia de que o
universo está sendo ameaçado por uma força poderosíssima chamada Destruidor
Negro. Esse time improvável irá se juntar, alguns contra a vontade, para salvar
o universo.
Embora a primeira história fosse essencialmente uma apresentação de
personagens, ela já apresentava algumas das mais interessantes características
da série: a ação vertiginosa e o suspense muito bem trabalhado. A estrela dos
primeiros números é Dart, que junto com seu namorado Blackjack vão cobrar uma
dívida e são atacados por um exército, mas conseguem escapar. A sequência
inicial mostrava os dois lutando contra os soldados do general Ki numa página
dupla que é um dos momentos mais clássicos dos quadrinhos da era de bronze.
Dart e Blackjack estão no quadro maior, que é invadido por uma mão vinda de
fora do quadro, apontando uma arma para Dart. Na sequência lateral, a heroína
nocauteia o dono da mão. Ali estão os elementos que fariam de Garcia Lopes um
dos desenhistas mais requisitados para capas: a composição inovadora, o
dinamismo e o perfeito domínio da anatomia.
Se Garcia Lopes tinha perfeito domínio da parte visual, Gerry Conway se
revelou um mestre do roteiro, com uma ótima caracterização de personagens,
narrativas paralelas, e uma trama muito bem costurada. Os dois, inclusive,
voltariam a se encontrar anos mais tarde, na minissérie Cinder e Ash, com
grande sucesso.
A dupla foi responsável pelo título até o número 12. O número 13 contou
com roteiro de Conway e desenhos do estreante Eduardo Barreto, que emulava o
estilo de Garcia Lopes. No número 14 a equipe se modificou completamente com a
entrada de Mike Baron no texto. Ainda assim a revista continuou com um bom
nível de qualidade até o número 20, quando a trama finalmente fechou.
No Brasil, Esquadrão Atari era uma das principais atrações de revistas
como Herois em Ação e Superamigos. Infelizmente, questões de direitos autorais
com a Atari fizeram que com essa série não fosse republicada, razão pela qual
poucos leitores da nova geração conhecem essa obra-prima da ficção-científica.
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