sexta-feira, janeiro 11, 2019

Mãe é mãe

Marquinhos ligou para a mãe no sábado.
- Tudo bem, meu filho?
Sim, tudo bem. Marquinhos tivera uma semana cansativa, mas já estava relaxando. Sim, estava tomando as vitaminas e se agasalhando e comendo na hora certa (a mãe sabia que era tudo mentira, mas ouvir isso era sempre um consolo). Por fim, Marquinhos avisou que precisava desligar. Tinha tomado um calmante e estava com sono. Além disso, os créditos do celular já estavam no fim.
Parecia tudo normal, mas mesmo assim a mãe não conseguia dormir. Alguma coisa estava errada, mas o quê?
No dia seguinte, acordou cedo e ligou para o filho. O telefone tocou, tocou, e nada.
- Ai meu Deus! O que está acontecendo? Calma, calma Zumira. É cedo ainda, ele não deve ter acordado. Ligo mais tarde.
Mais tarde o telefone caiu na caixa postal.
- Isso não está certo. Ele não costuma dormir tanto assim... e se aconteceu alguma coisa?
Ligou de novo. De novo na caixa postal e dessa vez a imaginação voou mais longe. Pensou no filho caído na cama, passando mal, sem ninguém ali, ao lado dele. Marquinhos dissera que estava tomando um calmante? E se ele tivesse tomado uma dose muito alta? E se tivesse dormido demais, ou pior, se o remédio tivesse tido efeito colateral? Não, não era nada disso, ele ligaria para ela... mas então a mãe lembrou-se do que ele dissera: os créditos estavam acabando. Talvez ele estivesse passando mal e não pudesse ligar por causa dos créditos.
- Ai, meu Deus, matei o meu filho!
O pior é que não tinha o telefone de nenhum amigo de Carlinhos. Não podia ligar para o trabalho dele. Era domingo. Decidida, entrou no carro e pegou a estrada.
- Preciso chegar enquanto ainda dá tempo!
Dirigiu nervosa, angustiada pelas mais pessimistas previsões. Calculou se daria tempo de chegar antes de seu querido Marquinhos ter morrido de fome e sede, incapaz de levantar da cama. Duas horas depois estacionou na frente do prédio. Nem fechou o carro. Não havia tempo para essas minúncias.
Já entrou gritando com o porteiro:
- Abra a porta do apartamento do meu filho. Ele está passando mal!
Foram o porteiro e o síndico, com uma chave mestra.
Ainda demoraram um pouquinho, pois o porteiro não sabia usar a chave. A mãe incentivava:
- Abre logo. Um minuto a mais pode ser tarde demais.
Deram com o Marquinhos sentado na poltrona, assistindo futebol, tomando cerveja e comendo salgadinhos.
Ele estava bem. Na verdade, estava ótimo, depois de uma magnífica noite de sono. O celular não atendia porque a bateria acabara e Marquinhos nem percebera. O síndico e o porteiro saíram rogando pragas.
A mãe, para não perder a viagem, ralhou:
- Onde já se viu? Em plena tarde de domingo você bebendo cerveja e comendo besteira! Se não fosse a sua mãe cuidar de você...

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