Na década de 1970, a grande
moda eram as artes marciais. No cinema, os filmes de Bruce Lee eram sucesso de
bilheteria. Na televisão, a série Kung Fu, com David Carradine (o “pequeno
gafanhoto”) ganhava cada vez mais fãs. Não ia demorar muito, portanto, para que
essa mania chegasse aos quadrinhos.
A Marvel lançou o super-herói Punhos de Ferro, enquanto a
DC lançou O Dragão do Kung Fu, sem falar nas pequenas editoras, que também publicaram
revistas para aproveitar a febre. Mas o personagem mais famoso e mais
emblemático dessa onda seria Mestre do Kung Fu, criado por Steve Englehart
(roteiro) e Jim Starlin (desenhos).
Os dois procuraram o editor-chefe da Marvel, Roy Thomas,
com a proposta de adaptar para os quadrinhos o seriado de TV. Thomas lembrou
que a série pertencia à Warner Bros, dona da DC. Então, ao oferecer a proposta
para a Warner eles não só receberiam um não, como ainda dariam uma ótima idéia
à DC Comics. Mas a editora do Super-homem já estava pensando em adaptar o
seriado. Roberto Guedes, no livro A era de bronze dos super-heróis conta que
Denny O´Neil teria alertado o Publisher da DC, Carmine Infantino,sobre a
possibilidade da Marvel lançar esse material. “Não se preocupe. Se a Marvel
lançar o Kung Fu, nós fazemos o Fu Manchu”. Fu Manchu era um vilão clássico dos
pulp fiction (revistas baratas de contos, muito populares até a década de
1930). Roy Thomas ficou sabendo disso e resolveu comprar os direitos do
personagem, transformando Fu Manchu no pai do herói da série.
Assim, a revista em quadrinhos contava a história de
Shang-Chi, um jovem mestre nas artes marciais, criado como uma arma viva por
seu pai, Fu Manchu, que pretendia usá-lo para dominar o mundo. Ao descobrir as
intenções de seu pai, Shang-Chi foge e se alia à agência britânica de
espionagem, a MI-6, onde conhece aquela que seria sua namorada, Leiko Wu.
A história estreou na revista Special Marvel Edition, 15
que passou a se chamar Master of Kung Fu a partir do número 17 por conta da
popularidade do personagem.
Embora Shang-chi tenha sido criado por Steve Englehart,
foi Dough Moench que se estabeleceu no título, escrevendo as mais importantes
histórias. Com a entrada de Paul Gulacy, estava formada a dupla favorita dos
fãs.
Gulacy tinha um traço fotográfico que espantou os fãs. Para
tornar o trabalho mais realista, ele conseguiu uma cópia do filme Operação
Dragão, projetou numa tela e fotografou as cenas congeladas. Assim, o
personagem ficava com a cara de Bruce Lee.
Gulacy desenhou a revista até o número 50, quando foi
substituído por Jim Craig. Como este não conseguia cumprir os prazos, foi
substituído por Mike Zeck.
Mike Zeck costumava errar muito em anatomia e não tinha o
traço fotográfico de Paul Gulacy, mas trouxe outras qualidades para a série.
Seu desenho era fluido e elegante, e combinava muito bem com a nova fase do
personagem, mais introspectiva. Depois das sagas centradas nas aventuras de
espionagem, o gibi começou adentrar na filosofia zen budista e a explorar mais
as relações entre os personagens.
Esse foco ousado para um gibi de luta fez com que Mestre
do Kung-Fu se destacasse de todas as revistas do gênero e durasse até o número
125, superando em muito o modismo das artes marciais. O último número, seguindo
a linha introspectiva introduzida por Moench, mostrava o personagem se
aposentando para se dedicar à filosofia oriental.
Sem dúvida, a revista foi um dos grandes momentos da Era
de Bronze dos quadrinhos americanos.
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