M. Night Shyamalan é o diretor de Hollywood que melhor entendeu os
quadrinhos. Prova disso é seu novo filme, Vidro, que fecha a trilogia iniciada
em Corpo Fechado.
A película é, essencialmente, uma grande homenagem aos quadrinhos.
Tudo é pensado como homenagem e referência. Além das referências óbvias,
que são expressas em diálogos entre os personagens, há os nomes de personagens,
como Crumb (Robert Crumb foi o papa do quadrinho underground). Mas há mais: a
vilã, por exemplo, é uma psicóloga que acredita que os super-heróis são um gênero
nocivo (os mais ligados vão se lembrar do psicólogo Fredrick Werthan, que na década
de 1950 realizou uma verdadeira cruzada contra os gibis).
Neste filme vemos finalmente o confronto do Senhor Vidro, a Horda
e o Vigilante. Mas não espere um filme pipoca. O foco é muito menos nas brigas
e muito mais no desenvolvimento dos personagens, na exploração de suas
personalidades. Nós descobrimos, por exemplo, porque o vigilante, embora seja
invulnerável, pode ser morto com a água. A genialidade de Vidro é muito melhor
explorada e exemplificada. Ele é mostrado aqui como alguém frágil apenas
fisicamente, mas cujos dotes intelectuais são espantosos, como um grande
jogador de xadrez, que antecipa todas as jogadas de seus adversários.
A direção também remete diretamente aos quadrinhos. Shyamalan na
maioria das vezes não mostra as ações, mas o resultado delas, como nas elipses
quadrinísticas.
O roteiro encaixa os três filmes como um quebra-cabeças muito bem
elaborado. E o plot twist final é digno do diretor de Sexto Sentido.
Não vá esperando um filme dos Vingadores. Mas se você gosta de
quadrinhos e gosta de filmes inteligentes, Vidro é uma ótima pedida.
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