sábado, março 30, 2019

Não seja professor




Não seja professor. Esse é o conselho que 60% dos atuais professores dão às gerações atuais.
Isso reflete diretamente a falta de valorização da categoria. Professores enfrentam turmas lotadas, baixos salários, nenhuma valorização profissional, levam muito trabalho para casa (planos de aula, correção de provas, preenchimento de diários), mas, segundo o atual Ministro da Educação, trabalham pouco (o Ministro quer turmas com média de 60 alunos).
As escolas estão igualmente sucateadas. Na maioria faltam itens básicos, como água no banheiro, sabão ou papel higiênico. Em muitos locais os professores precisam comprar do próprio bolso até mesmo giz. Aliás, é raro o professor que nunca tirou do próprio bolso para comprar material usado em sala de aula.
Uma pesquisa recente da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), aliás, mostrou que os professores brasileiros têm um dos menores salários do mundo. Um professor brasileiro ganha algo em torno de 10 mil dólares por ano. A média dos outros paíse é 25 mil dólares. Em Luxemburgo esse valor salta para 66 mil dólares.
Os salários no Brasil são tão baixos que muitos estão tendo que fazer bicos. Vários professores, por exemplo, estão se tornando motoristas de aplicativos. Mesmo a atividade sendo exercida nas horas vagas, gera mais dinheiro que a docência.  
Unido a isso há uma total falta de reconhecimento. Já uma pesquisa da Varkey Foundation mostrou que, de 35 nações avaliadas, o Brasil é o país que menos valoriza os professores.
Recentemente uma deputada foi eleita em Santa Catarina com um discurso totalmente anti-professores. Explica-se: ela era aluna de mestrado e sua dissertação foi reprovada pela banca. Vejam a inversão de valores: para ela, a culpa não foi dela, mas da professora (a culpa pela reprovação nunca é do aluno). E esse discurso convenceu milhões de pessoas, a ponto dela ter sido uma das deputadas mais votadas daquele estado. Seu primeiro ato como deputada eleita foi abrir um canal de denúncias contra professores. A quantidade de pessoas que votou nela espelha a realidade de anos em anos de intensa propaganda segundo a qual os professores são os maiores responsáveis por todos os problemas do Brasil. 
Alie-se a isso à violência. O recente massacre em Suzano mostrou que as escolas são alvos preferenciais dos assassinos seriais (depois do massacre, a polícia já descobriu diversos outros planos para ataques em escolas – reflexo direto de anos de campanha contra os docentes).
Não é à toa que a profissão de professor é que a mais apresenta problemas mentais, em especial stress.
Se a situação já não fosse precária o suficiente, agora temos a reforma da previdência, que vai aumentar em média mais de 10 anos a idade mínima para que os professores se aposentem. Isso para quem começou muito cedo, com 20 anos, por exemplo, ou menos. Para a maioria, será praticamente impossível aposentar antes dos 65 anos. Com uma rotina massacrante de sala de aula, que professor conseguirá continuar trabalhando até essa idade? A aposentadoria diferenciada era uma dos poucos aspectos positivos da docência. Agora até esse será tirado.
Então, fica o conselho: se você pensa em ser professor, esqueça. Não seja professor. Procure profissões mais valorizadas.   

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