Não seja professor. Esse é o conselho que 60% dos atuais professores
dão às gerações atuais.
Isso reflete diretamente a falta de valorização da categoria. Professores
enfrentam turmas lotadas, baixos salários, nenhuma valorização profissional,
levam muito trabalho para casa (planos de aula, correção de provas,
preenchimento de diários), mas, segundo o atual Ministro da Educação, trabalham
pouco (o Ministro quer turmas com média de 60 alunos).
As escolas estão igualmente sucateadas. Na maioria faltam itens básicos,
como água no banheiro, sabão ou papel higiênico. Em muitos locais os
professores precisam comprar do próprio bolso até mesmo giz. Aliás, é raro o
professor que nunca tirou do próprio bolso para comprar material usado em sala
de aula.
Uma pesquisa recente da Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Econômico (OCDE), aliás, mostrou que os professores brasileiros
têm um dos menores salários do mundo. Um professor brasileiro ganha algo em
torno de 10 mil dólares por ano. A média dos outros paíse é 25 mil dólares. Em
Luxemburgo esse valor salta para 66 mil dólares.
Os salários no Brasil são tão baixos que muitos estão tendo que
fazer bicos. Vários professores, por exemplo, estão se tornando motoristas de
aplicativos. Mesmo a atividade sendo exercida nas horas vagas, gera mais
dinheiro que a docência.
Unido a isso há uma total falta de reconhecimento. Já uma pesquisa
da Varkey Foundation mostrou que, de 35 nações avaliadas, o Brasil é o país que
menos valoriza os professores.
Recentemente uma deputada foi eleita em Santa Catarina com um
discurso totalmente anti-professores. Explica-se: ela era aluna de mestrado e
sua dissertação foi reprovada pela banca. Vejam a inversão de valores: para
ela, a culpa não foi dela, mas da professora (a culpa pela reprovação nunca é
do aluno). E esse discurso convenceu milhões de pessoas, a ponto dela ter sido
uma das deputadas mais votadas daquele estado. Seu primeiro ato como deputada
eleita foi abrir um canal de denúncias contra professores. A quantidade de
pessoas que votou nela espelha a realidade de anos em anos de intensa
propaganda segundo a qual os professores são os maiores responsáveis por todos
os problemas do Brasil.
Alie-se a isso à violência. O recente massacre em Suzano mostrou
que as escolas são alvos preferenciais dos assassinos seriais (depois do
massacre, a polícia já descobriu diversos outros planos para ataques em escolas
– reflexo direto de anos de campanha contra os docentes).
Não é à toa que a profissão de professor é que a mais apresenta
problemas mentais, em especial stress.
Se a situação já não fosse precária o suficiente, agora temos a
reforma da previdência, que vai aumentar em média mais de 10 anos a idade mínima
para que os professores se aposentem. Isso para quem começou muito cedo, com 20
anos, por exemplo, ou menos. Para a maioria, será praticamente impossível
aposentar antes dos 65 anos. Com uma rotina massacrante de sala de aula, que
professor conseguirá continuar trabalhando até essa idade? A aposentadoria
diferenciada era uma dos poucos aspectos positivos da docência. Agora até esse
será tirado.
Então, fica o conselho: se você pensa em ser professor, esqueça. Não
seja professor. Procure profissões mais valorizadas.
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