Quando foram divulgadas as primeiras fotos não oficiais da série
Titãs, o seriado recebeu uma enxurrada de críticas. Os fãs morderam a língua.
Titãs é o melhor seriado de super-heróis de todos os tempos e melhor que 90% de
todos os filmes de super-heróis já lançados.
Para quem não conhece quadrinhos, Titãs é baseado no grupo de
parceiros mirins da DC Comics. Sim, durante um longo período todo super-herói
tinha que ter um parceiro mirim. Batman tinha o Robin, Mulher Maravilha tinha a
Moça Maravilha, Flash tinha o Kid Flash e assim por diante.
Na década de 60 a DC teve a ideia de reunir esses heróis mirins em
uma revista, Teen Titans. Não deu muito certo. Os personagens usavam gírias da
década de 40 ou 50, eram extremamente respeitosos com os heróis principais e
tinham a metade do tamanho desses. Ou seja, não agiam como jovens.
Na década de 1980, o roteirista Marv Wolfman, que odiava o gibi
quando era jovem, resolveu mostrar como se faz uma série para a juventude. Além
de criar novos personagens, como Ravena, Estelar e Mutano, ele mudou a relação
dos parceiros com os heróis. Robin, por exemplo, passou a ter uma relação de
conflito com o Batman. Foi um sucesso tão grande que levou à criação de três
animações (a mais recente voltada ao público infantil) e o live action, criado,
entre outros pelo roteirista de quadrinhos Geoff Johns e lançado recentemente
pela Netflix.
E o que Titãs tem de revolucionário?
Essencialmente a forma como é estruturado um seriado de super-heróis.
Tirando os heróis urbanos da Marvel, como Demolidor, a maioria desses seriados é
focada em heróis em uniformes coloridos lutando a cada episódio contra um vilão,
em meio a uma grande quantidade de efeitos especiais meia-boca (o orçamento dos
seriados é bem menor que o dos filmes).
Titãs quebra com esse esquema ao se estruturar como um seriado de
mistério. O expectador não sabe quem são os personagens e, em alguns casos, nem
eles mesmos sabem (como é o caso de Estelar e Ravena) e mesmo aqueles heróis
que conhecemos como tal desde o início, a exemplo do Robin, têm algo a ser
revelado. Além disso, há uma trama maior, que também se revela um mistério - quem
quer matar Ravena?
Essa estrutura faz com que o seriado seja interessante não só para
os fãs de quadrinhos, mas para os expectadores em geral.
Além disso, muda o foco da trama da ação e os efeitos especiais
para o desenvolvimento dos personagens – e esses são muito bem desenvolvidos. Nesse
sentido, a escolha de atores foi acertadíssima. Destaque para Teagan Croft, no
papel de Ravena e Anna Diop, no papel de Estelar. Aliás, a criticada roupa
usada por Anna Diop na série acaba fazendo todo sentido, dentro da proposta do
seriado.
Os efeitos especiais, quando aparecem, são em momentos chave, e
muitas vezes, nem exigem o famoso CGI. Há uma cena, por exemplo, em que Ravena
usa seus poderes que é feita exclusivamente com maquiagem, interpretação e
montagem.
Bons diretores já haviam mostrado que para fazer produções sobre
seres super-poderosos não é necessário uma fortuna em efeitos especiais – basta
uma boa direção, bom roteiro e bons atores. Scanners, filme de 1981, de David
Cronenberg, é um exemplo. Mais recentemente, a trilogia de Shyamalan (Corpo
Fechado – Fragmentado – Vidro) é outro.
Titãs parece mostrar que a DC aprendeu essa lição: Boa direção, efeitos
especiais na medida certa, bons atores, bons roteiros e uma trama que vai num
crescendo até o capítulo final.
Se não bastasse tudo isso, há o ótimo capítulo com a Patrulha do
Destino (que o tradutor da Netflix rebatizou como Patrulha dos Condenados) e
uma visão do Batman muito mais adequada que todos os últimos filmes da DC. A
forma como o Homem-morcego - e Gothan - é mostrado na série (ou não é mostrado)
é simplesmente genial e lembra grandes obras dos quadrinhos, como Asilo Arkhan.
O recente anúncio de que a Patrulha do Destino vai virar série parece
mostrar que Titãs será o norte da DC na telinha. Tomara.
Sem comentários:
Enviar um comentário