domingo, março 31, 2019

Um Quarteto clássico


Quem hoje em dia vê o Quarteto Fantástico naufragar no cinema filme após filme dificilmente poderia imaginar que esse pequeno grupo de super-heróis foi durante muito tempo o que havia de mais interessante e revolucionário nos quadrinhos americanos de super-heróis. A coleção histórica Marvel, recentemente lançada pelo Panini, serve como exemplo disso.
O Quarteto surgiu em 1961, graças a uma partida de golfe. Martin Goodman, dono da Marvel (que na época chamava-se Atlas) jogava com Jack Liebowitz, dono da National (atual DC Comics) e Liebowtiz se vangloriou que a revista da Liga da Justiça, lançada recentemente, estava se tornando um sucesso absoluto entre os jovens leitores.
Goodman correu para a Marvel e pediu para seu editor-chefe, Stan Lee, que criasse um grupo de heróis aos moldes a Liga: unindo heróis da Era de Ouro.
Lee, à essa altura, estava pensando em abandonar os quadrinhos e se dedicar à literatura. Queria propor algo diferente, mas achava que o chefe não iria aceitar. Foi sua esposa que o encorajou a apresentar a nova ideia. Afinal, o máximo que poderia acontecer seria ele ser demitido, algo que ele já queria.
A ideia de Lee era um grupo totalmente diferente de heróis, humanizados, com histórias dotadas de cronologia e que nem mesmo usavam uniformes ou máscaras (posteriormente eles usariam um informe azul, mas sem máscaras). Surpreendentemente, o dono da Atlas aceitou e assim surgiu o Quarteto Fantástico.
 Além da continuidade, dos heróis bidimensionais (em oposição aos heróis unidimensionais da DC da época), Stan Lee e Jack Kirby criaram uma série de tirar o fôlego, em que a ação acontecia de maneira ininterrupta e ganchos e mais ganchos seguravam o leitor e o deixavam se fôlego.
Provavelmente o melhor exemplo disso seja o volume dois da coleção histórica, dedicado aos confronto do Quarteto com Galactus. Dizem que a sinopse, escrita por Stan Lee para a história foi: “O Quarteto enfrenta Deus!”. E de fato era um deus, um ser tão poderoso que se alimentava de planetas. Essa história elevou o nível dos vilões. Se antes eles queriam roubar um banco, ou dominar um país, esse singrava as estrelas e tinha tanta consideração pela humanidade quanto um ser humano tinha por uma formiga.
O volume apresenta histórias de duas fases, ambas escritas por Lee, mas com dois desenhistas diferentes. Na primeira fase, Jack Kirby imprime seu traço simples, mas potente, de ação pura. Na segunda fase, John Buscema imprime elegância aos desenhos e dá o visual que seria definitivo do Surfista Prateado, que havia sido colocado na primeira história como um simples coadjuvante, que deveria desaparecer depois. Dizem que Stan Lee viu o desenho e viu ali um ser nobre, um profeta ou filósofo das estrelas, mas essa nobreza só foi alcançada no traço de Buscema em um trabalho tão fantástico que deu origem à revista do personagem, de vida curta, mas que virou cult entre os leitores.    

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