segunda-feira, junho 03, 2019

Tom´s Bar

Ivo Milazzo e Giancarlo Berardi conquistaram uma fiel legião de fãs brasileiros com o personagem Ken Parker. Lançado aqui no início dos anos 80 pela editora Vecchi, Parker se destacava por ser um herói humano em uma época em que todos os caubóis dos quadrinhos eram estereotipados. O personagem foi publicado por várias outras editoras, inclusive a Mythos, que fechou a série recentemente, publicado a última aventura do chamado "Rifle Comprido". Agora a dupla de autores está de volta com Tom's Bar, editado pela Opera Graphica.

Em Tom's Bar o ambiente é a Chicago dos anos 40. O personagem principal é o Tom do título, um homem já idoso, que guarda segredos sobre seu passado.

O álbum reúne quatro histórias envolvendo Tom e o Bar. Parece monótono, mas não é. Berardi quer nos mostrar que por trás de um homem e um ambiente simples, sem glamour, há grandes histórias.

O primeiro conto, "Quase Sempre" é uma introdução e uma declaração de princípios. Um jornalista visita o bar e reclama de que já não há mais fatos interessantes para os jornais: "Devia aparecer outro Al Capone para aumentar a tiragem". Tom concorda: "É, bons tempos aqueles!".

Enquanto o jornalista toma um drinque, Tom sem que o último veja, se resolve com um gangster que veio cobrar proteção.

Ou seja: os fatos interessantes, assim como as pessoas interessantes, estão debaixo de nossos narizes. Basta ter olhos para ver.

Tom não é um herói bidimensional. Tem coração, mas também tem contradições. Ao mesmo tempo em que vende armas, evita que um garoto se envolva no mundo do crime.

Ler Tom's Bar é como ver um fractal (figura geométrica que representa fenômenos caóticos): à medida em que nos aprofundamos nos personagens, eles nos revelam novas complexidades.

Além do texto de Berardi, vale destacar a arte de Milazzo. Toda realizada, em aguada, a história é um colírio para os olhos cansados de ver histórias pintadas em computador.

A aguada é feita de nanquim misturado com água. Dá um efeito semelhante ao da aquarela, mas em preto e branco. É uma arte perdida. Com a popularização da impressão em cores e a difusão dos computadores, poucos artistas da atualidade sequer sabem o que é uma aguada. Milazzo sabe, e muito bem.

A técnica usada nos desenhos não é gratuita. A aguada dá à história um toque nostálgico de filme noir dos anos 40. Além disso, as angulações usadas por Milazzo também são muito cinematográficas.

Tom's Bar é um álbum indispensável para que gosta de quadrinhos, mas já está cansado de heróis com cuecas do lado de fora das calças.

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