Há algum tempo, os cientistas descobriram a entropia, um
princípio universal que estaria levando o universo inexoravelmente ao caos. A
entropia é a perda de energia, ou informação. O caos está à nossa volta. Uma
xícara de café que esfria é um exemplo de como ela está até onde menos
imaginamos.
Depois os cientistas
descobriram os atratores estranhos, os fractais, o efeito borboleta. Tudo isso,
mais a entropia, forma a Teoria do Caos...
Mas o que tudo isso tem a ver com os quadrinhos? Simples, os
quadrinhos foram a principal mídia a se apropriar desse discurso caótico. Sem
se dar conta, os roteiristas formaram um batalhão para divulgar a nova teoria e
convencer todo mundo de que o caos nos rodeia. Nesse artigo, vamos conhecer
algumas dessas histórias baseadas, de uma maneira ou de outra, nessa teoria.
O ARTISTA E OS FRACTAIS
O exemplo mais óbvio é o roteirista inglês Grant Morrison. Ele
falou do assunto abertamente em suas HQs. Numa das histórias do Homem-Animal, a
Terra vai ser invadida pelos Tanagharianos (lembram? Aquele pessoal de asas do
planeta do Gavião Negro...). E, para executar o primeiro passo do plano
adivinhem quem eles convocam?
Um artista especializado
em geometria fractal. Fractais são imagens de computador formadas a partir de
fórmulas matemáticas. Elas formam imagens muito bonitas e o mais interessante
é: se você ampliar uma parte do desenho, ele será muito semelhantes à imagem
maior. Você pode passar a vida inteira ampliando um fractal e ele vai aparecer
sempre com a mesma imagem auto-semelhante.
Lá pelo meio da história, o extraterrestre diz: "Talvez
você esteja familiarizado com os conceitos da geometria fractal. Uma forma
fractal é aquela que revela mais detalhes quando examinada de perto. Pode ser
ampliada indefinidamente e ainda revela novas complexidades. Ocorreu-me que a
vida em si pode ser entendida como tendo uma forma fractal! Noção interessante,
não acha? Então fiz esta bomba!".
A artefato ia bombardear
todos os humanos com uma torrentes de lembranças caóticas do próprio artista.
O CAOS DO DIA A DIA
Em outra história de
Grant Morrison, Asilo Arkham, que ficou famosa por causa da cena em que o
Coringa passava a mão na bunda do Batman, também há referências à teoria.
Uma psicóloga explica a personalidade do Coringa usando a Teoria
do Caos. Segundo ela, o vilão era, num dia, um palhaço inocente e, no outro, um
assassino perigoso. Tudo isso, porque não conseguia lidar com o caos de
informações que recebemos dia após dia, instante após instante. Ao contrário de
nós, ele não selecionava as informações que chegam e, para lidar com isso,
tinha diversas personalidades. Em outra seqüência, o Chapeleiro Louco é visto
numa sala de espelhos em que sua imagem se repete ao infinito.
SHOPPING CENTER CAÓTICO
Bill Sienkiewicz, desenhista de Elektra Assassina assimilou o caos ao seu
estilo. As obra de Bill são repletas de informações numa única página. Ele
e Alan Moore juntaram-se para fazer um vídeo caótico
sobre a queda do Muro de Berlim e ganharam diversos prêmios. Gostaram da
experiência e decidiram fazer uma minissérie sobre o caos. A revista
chamou-se Big Numbers e contava a
história de como a instalação de um shopping center pode mudar completamente a
vida dos habitantes de uma cidadezinha do interior da Inglaterra. Deveriam ser
12 números, mas só foram publicados dois. As razões, só o caos explica. Deu bug
no Sienkiewicz e eles simplesmente decidiram abandonar o projeto.
QUEM VIGIA AS BORBOLETAS
Mas a obra definitiva sobre o caos publicada em quadrinhos
é Watchmen, de Alan Moore e Dave Gibbons. Watchmen mostra
um mundo modificado pelo surgimento dos super-heróis. Alan Moore baseou-se no
princípio do efeito borboleta, segundo o qual pequenas modificações podem
provocar grandes mudanças.
Na trama, há vários efeitos borboleta, ou seja, inúmeros
pequenos eventos que acabam provocando grandes mudanças. Começa com algo que
parece simples: o assassinato de um diplomata. Quando se descobre que a vítima
era o herói Comediante, Rorschach inicia uma investigação a respeito de um
matador de mascarados. As conseqüências dessa investigação acabam sendo
imprevisíveis e o futuro da humanidade pode depender dos resultados da mesma.
O próprio mundo está a
caminho do caos, já que os EUA e a Rússia estão a um passo da guerra nuclear. E
o único que pode impedir a catástrofe é Dr. Manhattan, um super-herói com jeito
de Deus que se diverte construindo castelos fractais em Marte.
Mas a grande questão de Watchmen é: se
o mundo é governado por pequenos eventos que têm grandes conseqüências, alguém
poderia controlar o destino da humanidade por meio de sua manipulação? É
possível ditar o que as pessoas desejam, seus ideais, o seu futuro? Só o caos,
meus senhores... só o caos sabe a resposta.
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