Braz de Aguiar foi durante muitos anos a rua mais elegante de Belém. |
Braz de
Aguiar foi, durante, antes do surgimento dos shoppings, a rua mais chique de
Belém, famosa pelas suas confeitarias caríssimas. Foi numa dessas confeitarias
que eu e o compadre Bené Nascimento (Joe Benett) protagonizamos uma cena no
mínimo curiosa.
Na época nós
produzíamos o fanzine Crash, o primeiro fanzine de quadrinhos do Pará. Sem
dinheiro para xerox, nós reproduzíamos as páginas numa repartição pública, meio
que às escondidas, graças à bondade de uma amiga do Bené.
Um dia
saímos de lá e fomos direto para o Centur, onde nos informaram que seria
possível ministrar oficinas de quadrinhos. Eu já havia feito o contato inicial,
mas queriam conhecer o Bené. À essa altura, Collor já havia sido eleito
presidente, as principais editoras de terror já haviam quebrado e ministrar
oficinas de quadrinhos pareceu uma boa forma de ganhar algum dinheiro.
Quando
saímos de lá, ali pelas quatro da tarde, estávamos urrando de fome. Não
tínhamos almoçado e nem tínhamos dinheiro sequer para um prato de comida.
Juntamos os poucos centavos que havia em nossos bolos além do necessário para
passagem e nos dirigimos à padaria mais próxima, coincidentemente, situada na
Braz de Aguiar, a rua mais elegante de Belém, frequentada na época apenas pelos
ricaços da cidade.
Entramos
naquele local chique e pedimos um pão baguete.
- Para
levar? – perguntou o atendente.
- Não, para
comer aqui.
- Querem que
passe manteiga, que esquente na chapa?
Olhamos para
os preços, para nossos centavos e abanamos a cabeça:
- Não, assim
mesmo. Sem manteiga. E não precisa colocar na chapa não. Mas... ah... se puder
nos arranjar uma água... de torneira...
E lá ficamos
nós, comendo um pão puro, com água de torneira, na confeitaria mais chique de
Belém, sob os olhares intrigados dos outros frequentadores.
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