De todos os personagens do Quarteto Fantástico, a
de menor destaque sempre foi a Mulher Invisível. Seus poderes pareciam ser
apenas defensivos e muitas vezes ela nem participava de fato das tramas. Alan
Moore satirizou isso na minissérie 1963. Uma das revistas era uma paródia do
Quarteto e a personagem equivalente à Mulher Invisível em determinado momento
varria a sala enquanto os meninos liam e respondiam as cartas. E uma das cartas
pedia sua saída do grupo: “ela não bate em ninguém e ninguém pode bater nela”.
Essa situação mudou radicamelmente na ótima fase de
John Byrne no título (talvez a melhor depois da saída de Lee e Kirby do
quarteto). Na história o Barão Ódio, com a ajuda do Homem-psíquico, incendeia
Nova York estimulando o ódio entre a população.
A trama por si já seria relevante nos dias atuais,
em que discursos de ódio se disseminam facilmente pela internet. Byrne reflete
sobre como o ódio ao diferente parece estar sempre encomberto por uma fina
camada de gelo, que pode ser facilmente quebrada. Assim, mutantes, judeus,
qualquer um que seja diferente passa a ser caçado pela população.
E, em meio a isso, o Barão consegue dominar Sue
Storm, transformando-a em Malícia, uma perigosa vilã e é quando seu poder é
totalmente explorado. É como se a doce garota invisível fosse incapaz de
perceber a extensão total de seus poderes – capazes de derrotar até mesmo a
Mulher Hulk.
O desenho de Byrne, com arte-final de Jerry Ordway
e Al Gordon se encaixa perfeitamente no título, seguindo a melhor tradição de
Jack Kirby e atualizando-o para a década de 1980: perfeitos nas cenas de ação
ou de ficção-científica, com exemplar equilíbrio entre quadros repletos de
cenários e quadros minimalistas.
O problema é no roteiro. Byrne aborda aspectos
importantes da personagem, como no momento em que o Homem-psíquico explora os
medos da Mulher Invisível, mas não os aprofunda.
Além disso,
em determinado ponto os heróis vão atrás do Homem-psíquico e simplesmente
esquecem o Barão Ódio, que foi quem de fato manipulou Sue, tirando dela seu
pior lado. Byrne esquece do personagem. Além disso, em uma sequência vemos Nova
York destruída e sendo literalmente incendiada pelo ódio e na sequência
seguinte tudo pareceu resolvido.
Apesar desses problemas, é uma boa história do
Quarteto e merece estar em qualquer coleção.
No Brasil essas histórias saíram nos formatinhos do
Abril e recentemente na coleção Os heróis mais poderosos da Marvel, da Salvat.
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