quinta-feira, agosto 29, 2019

Refrão de bolero, da dupla Gian-Bené



Na fase mais tardia da Nova Sampa produzimos aquela que tanto eu quanto Joe Bennett consideramos nossa melhor obra: a trilogia erótica Refrão de Bolero.
A história surgiu quando eu fui assaltado no centro de Belém. Ainda abalado, fui parar na casa do compadre e lá conversamos sobre como a cidade estava se tornando violenta e, principalmente, sobre como a propaganda oficial ainda vendia Belém como uma cidade de cartão postal.
O enredo tratava exatamente disso: de uma turista que, num primeiro momento se encanta com a cidade das mangueiras, mas depois acaba sofrendo na pele a violência ao ser assaltada e se vê sozinha, sem dinheiro ou amigos numa cidade de cartão postal. Aliás, as HQs eram todas feitas a partir de músicas que gostávamos, a exemplo da própria Refrão de Bolero que deu nome à trama (e cuja letra entrega tudo que está acontecendo). Claro que tudo isso misturado a muito sexo. Afinal, estávamos produzindo esse material paras revistas eróticas da Nova Sampa!
O Bené usou a história para mostrar seu domínio da perspectiva e da anatomia humana e eu construí um dos textos dos quais mais me orgulho, em que tudo se encaixa. Destaque para a frase “cidade de cartão postal”, citada no início e no final da história, mas com significados completamente diferentes. 
Anos depois, um fã procurou Bené com a proposta de transformar a história em um filme. Desconfiado, o compadre foi ao encontro do fã e se espantou ao perceber o quanto ele conhecia da obra da dupla, mas se decepcionou quando viu a garota mirrada que o suposto diretor havia escalado para protagonista, completamente diferente da Ana da história, um mulherão de parar o trânsito. “Ali percebi que não ia rolar mesmo nada e era só devaneio de um fã da obra”, lembra Joe Bennett.
Mas ao menos uma coisa sempre valeu e sempre nos deu satisfação: ouvir de fãs de quadrinhos que nunca mais conseguiram escutara música dos Engenheiros do Havaí sem lembrar desse pequeno clássico do quadrinho erótico nacional.

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