Na fase mais
tardia da Nova Sampa produzimos aquela que tanto eu quanto Joe Bennett
consideramos nossa melhor obra: a trilogia erótica Refrão de Bolero.
A história
surgiu quando eu fui assaltado no centro de Belém. Ainda abalado, fui parar na
casa do compadre e lá conversamos sobre como a cidade estava se tornando
violenta e, principalmente, sobre como a propaganda oficial ainda vendia Belém
como uma cidade de cartão postal.
O enredo
tratava exatamente disso: de uma turista que, num primeiro momento se encanta
com a cidade das mangueiras, mas depois acaba sofrendo na pele a violência ao
ser assaltada e se vê sozinha, sem dinheiro ou amigos numa cidade de cartão
postal. Aliás, as HQs eram todas feitas a partir de músicas que gostávamos, a
exemplo da própria Refrão de Bolero que deu nome à trama (e cuja letra entrega
tudo que está acontecendo). Claro que tudo isso misturado a muito sexo. Afinal,
estávamos produzindo esse material paras revistas eróticas da Nova Sampa!
O Bené usou
a história para mostrar seu domínio da perspectiva e da anatomia humana e eu
construí um dos textos dos quais mais me orgulho, em que tudo se encaixa.
Destaque para a frase “cidade de cartão postal”, citada no início e no final da
história, mas com significados completamente diferentes.
Anos depois,
um fã procurou Bené com a proposta de transformar a história em um filme.
Desconfiado, o compadre foi ao encontro do fã e se espantou ao perceber o
quanto ele conhecia da obra da dupla, mas se decepcionou quando viu a garota
mirrada que o suposto diretor havia escalado para protagonista, completamente
diferente da Ana da história, um mulherão de parar o trânsito. “Ali percebi que
não ia rolar mesmo nada e era só devaneio de um fã da obra”, lembra Joe Bennett.
Mas ao menos
uma coisa sempre valeu e sempre nos deu satisfação: ouvir de fãs de quadrinhos
que nunca mais conseguiram escutara música dos Engenheiros do Havaí sem lembrar
desse pequeno clássico do quadrinho erótico nacional.
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