Nos últimos anos nós temos visto muitas situações
nos quadrinhos em que um desenhista era a estrela. Em outras, o roteirista era
a estrela. Mas uma boa história em quadrinhos é uma sintonia perfeita entre
texto e imagem, entre desenhista e roteirista. Algo que foi alcançado muito
poucas vezes: Stan Lee e Jack Kirby, Gerry Conway e Garcia-Lopez. E é
exatamente essa sintonia que faz de Imortal Hulk (cujo primeiro álbum foi
recentemente lançado pela Panini) uma obra tão importante.
Essa nova fase do Hulk é escrita pelo britânico Al
Ewing e ilustrada pelo paraense Joe Bennett (ou Bené Nascimento, para os íntimos)
e é impressionante a sintonia entre os dois: o roteiro funciona porque o
desenho funciona e o desenho funciona porque o roteiro funciona.
Na trama, Bruce Banner descobre que não pode
morrer, pois o corpo do Hulk sempre irá se restaurar.
A trama começa com um assalto a um posto de
gasolina, uma sequência cinematográfica com planos que muitas vezes contam a
história sem necessitar de palavras – e Ewing foi inteligente o suficiente para
perceber que essas sequências muitas vezes não precisavam de uma única palavra.
Toda essa sequência tem apenas um texto-legenda,
emblemático, essencial para entender toda a história e que será repetido e
resignificado ao longo da trama: “Há sempre duas pessoas no espelho. Há aquela
que você vê. E tem aquela outra. A que você não quer ver”. O trecho é de uma
genialidade semiótica, pois pode se referir ao garoto que está assaltando o
posto de gasolina, a Bruce Banner, ao Sasquatch e até mesmo à repórter que investiga
a história.
Al Ewing usa muito bem todo o background psicológico
já estabelecido por outros roteiristas, em especial Bill Mantlo – segundo o
qual o Hulk já estava ali, no menino Bruce Banner, em resposta aos abusos do
pai e apenas aflorou no contato com a radiação gama. Isso dá ao personagem uma
profundidade insuspeita nesses tempos de ação desenfreada.
E, enquanto Ewing cuida da alma do monstro, Joe
Bennett cuida dos punhos. Suas sequências de ação são magistrais. Além disso, o
seu Hulk tem tudo para se tornar o Hulk definitivo: embora nitidamente
inspirado na fase de Jack Kirby no personagem, ele aqui se torna muito mais
brutal, uma brutalidade que explode nas splash pages.
Há alguns senões. A parte três, por exemplo, é
ilustrada por vários desenhistas de acordo com o relato de cada uma das
testemunhas. Mas Joe Bennett tem o traço eclético o suficiente para ter feito
todas as sequências sem perder a unidade, como acabou acontecendo. Outro senão é
a cor de Paul Mounts, escura demais, o que muitas veze esconde detalhes do
desenho.
A série foi indicada ao prêmio Einser e no Brasil já
esgotou a primeira tiragem. E não é sem razão: Imortal Hulk é um dos trabalhos
mais interessantes já surgidos nos últimos anos nos quadrinhos.
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