segunda-feira, outubro 07, 2019

Homem-aranha – a saga original do clone



A saga do clone é um dos momentos mais controversos da história do aracnídeo. Arrastada, complicada, quase incompreensível, era um ótimo exemplo do que de pior a Marvel produziu na década de 1990. Entretanto, ela é baseada em uma ótima HQ, publicada aqui pela editora Salvat na coleção definitiva do Homem-aranha.
Escrita por Gerry Conway e desenhada por Ross Andru, uma das melhores duplas já reunidas no título do Aranha, a saga surgiu para resolver um problema: Gwen Stacy, a namorada do herói, havia morrido em um dos momentos mais dramáticos dos quadrinhos de todos os tempos. Mas Stan Lee, que não tinha sido consultado, não gostou. E exigiu que a equipe trouxesse a personagem de volta. Hoje em dia é comum um herói morrer de manhã e aparecer à tarde tomando café, mas naquela época, na Marvel, quando alguém morria, morria mesmo. Trazer de volta alguém que havia batido as botas era considerado uma quebra do pacto de verossimilhança.
Então, a solução foi trazer Gwen de volta na forma de um clone.
A solução poderia parecer forçada nas mãos de uma equipe menos habilidosa. Mas Conway e Andru transformaram isso num verdadeiro clássico dos quadrinhos, a começar por todo o suspense. O clone é apresentado aos poucos, deixando o leitor indeciso sobre o que está vendo.
O álbum da Salvat inicia com uma edição anterior, Spiderman 129, que apresenta o personagem Chacal. Depois pula para uma história em que Peter Parker viaja para Paris e enfrenta um vilão chamado Ciclone. Geralmente essa história em duas partes é pulada e não sem razão: é um ponto fora da curva, com um vilão ridículo, que o aracnídeo derrota usando um ventilador!
Mas na edição seguinte, vemos a dupla Conway-Andruu no seu melhor, a começar pela splash page na qual Peter Parker, ao ver Gwen, acha que enlouqueceu.
Andru é um especialista na figura humana e sua composição é perfeita, com Peter Parker no centro, sentado no degrau da escada, os olhos vidrados, em posição fetal, sendo atormentado pela figura espectral do Homem-aranha, que lhe diz coisas como: “Finalmente aconteceu, não é? Depois de todos esses anos, depois de todas essas batalhas que lutou sendo eu... você finalmente surtou”. E, ao fundo, Gwen Stacy estática, como um fantasma assombrando Parker.
O texto de Conway é fluído, parecendo ter sido escrito de maneira automática, e explora bem tanto a ação quanto os aspectos psicológicos do personagem. E a arte de Andru contribui para ainda mais para isso.
É interessante notar, por exemplo, porque Conway gostava mais de Mary Jane: Gwen Stacy parece uma garota dos anos 1960, enquanto Mary Jane é uma descolada garota dos anos 1970. Essa diferença entre elas fica nítida tanto nas roupas que usam quanto na personalidade.
Lendo esse álbum percebemos porque a revista do aracnídeo se tornou a mais vendida da Marvel. Pena que essa obra-prima tenha dado a origem a um dos momentos mais constrangedores da história do Homem-aranha de todos os tempos. 

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