Eu devia ter uns 14 anos e,
na época, se você quisesse pagar um conta deveria enfrentar uma fila enorme no
banco. E eu era responsável por pagar as contas da casa. Certa vez a fila era
tão grande que saía do banco e serpetenteava por toda a quadra. Para se
distrair, alguém levou um gibi, que acabou emprestando para a pessoa do lado,
que emprestou para a outra, que emprestou para a outra, até que chegou em
minhas mãos e só devolvi quando li tudo, incluindo a sessão de cartas. Era a
Superaventuras Marvel número 4 e, entre todas as histórias, uma das que mais me
chamaram atenção foi uma aventura de Conan escrita por Roy Thomas e desenhada
por Barry Smith, Asas demoníacas sobre Shadizar, publicada originalmente na
revista Conan The barbarian número 6.
Essa é uma história de
quando a equipe já estava mais afinada e já tinha entendido o personagem,
depois do tropeço das primeiras revistas.
Na HQ, conan está com um
saco cheio de moedas de ouro quando entra numa taverna. Lá ele conhece uma
prostituta, Jenna, que o convence a fundir o ouro no formato de coração
(segundo ela, mais fácil de carregar) e o leva para o deserto, onde, no meio de
um beijo, os dois são atacados por sacerdotes do deus noturno e a moça é levada
por eles para servir de sacrifício.
Conan, depois de procurar o
ferreiro que a moça dizia ser seu tio (era mentira), resolve resgatá-la
sozinho, disfarçando-se com o manto vermelho dos adeptos do culto.
O deus noturno é, na
verdade, um imenso morcego (é impressionante como na era hiboriana existiam muitos
animais enormes e mais impressionante ainda como eles eram quase sempre
confundidos com divindades!).
Conan, claro, salta no
morcego e salva a moça, mas acabam no deserto. Desgastado pela luta, é
consolado pela moça, que lhe sugere e tenha sonhos dourados. Quando acorda,
sozinho, em pleno deserto, Conan descobre que a moça fugiu levando o coração de
ouro e concluí: “Eu fiquei com os sonhos.. e ela com o ouro”.
Estava ali todos os elementos de uma boa história de Conan, a começar
pela filosofia de Robert E. Howard, segundo a qual a verdadeira honra só pode
ser encontrada em um selvagem. Terminar com a adorável moça roubando o ouro
daquele que a salvou representa muito bem isso. Junte a isso cultos estranhos,
muita ação, o traço de Barry Smith, que já começava a se tornar aquele que
todos conhecemos, um Conan que, apesar de seu gesto heroico, é pouco cavaleiro,
e temos uma ótima aventura do barbáro.
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