Uma das ideias
básicas do filósofo canadense Marshall McLuhan era a de que pouco importava o
conteúdo dos meios de comunicação. O que era realmente importante era o fato
desses meios existirem. Essa ideia foi resumida na frase “O meio é a mensagem”.
Para McLuhan, a forma como nos comunicamos determina a maneira como nos
organizamos socialmente. Mais: a forma como nos comunicamos muda nossos
processos mentais.
Uma análise da
evolução mostra como se deu essa relação mídia-sociedade-cérebro.
No começo,
vivíamos em aldeias. O tamanho da aldeia, segundo o McLuhan, é determinado pelo
número de pessoas que podem ouvir a voz do líder. Em uma cultura oral, os
grupos devem ser pequenos exatamente para facilitar a comunicação. Se o grupo
se tornava muito grande, acabava se separando e formando outro grupo, com outro
líder.
Nessa época o
sentido mais usado era a audição. A comunicação era feita pessoa-pessoa, sem
uso de qualquer plataforma além da própria fala. Era uma comunicação com
envolvimento, pois normalmente se falava de pessoas conhecidas de todos e de
fatos que muitas vezes tinham importância para a tribo. Não havia separação
entre teoria e prática: aprendia-se praticando. As ações mais importantes dessa
época, como plantar, caçar e pescar, eram aprendidas tendo como professores
parentes, que ensinavam através da prática.
A invenção da
escrita mudou o mundo.
Com a escrita era
possível ao líder enviar suas ordens ou receber relatórios de locais distantes,
razão pelas quais as cidades foram se tornando cada vez maiores. Esse processo
permitiu a criação dos impérios, já que as ordens e relatórios eram enviados
por mensageiros (não por acaso, a primeira coisa que os romanos faziam ao
conquistar um território era construir estradas ligando o local à Roma, origem
da expressão “todos os caminhos levam a Roma”.
Outra
consequência da invenção da escrita foi o surgimento da hierarquia e da mania
de classificação.
Numa sociedade
muito mais complexa do que a tribo, era necessário haver níveis intermediários
de comando, o que dá origem à hierarquia. Esse processo, por outro lado,
reflete o surgimento das primeiras bibliotecas. Com tantas mensagens indo e
vindo, era necessário organizar as informações. As tabuletas de barro passaram
a ser juntadas por assunto, de maneira classificatória e hierarquizada. Assim,
as ordens dos reis precisavam ser separadas dos relatórios e mesmo os relatórios
deveriam ser separados entre si: a produção de trigo em uma coluna, a produção
de gado em outra.
Na época da tribo
e do ouvido, lidava-se com a informação relevante e relacional e a memória era
biológica: os mais velhos geralmente eram os detentores daquilo que se devia
saber para sobreviver: como plantar, pescar, caçar.
O surgimento da
escrita e suas bibliotecas organizadas privilegiou a informação classificadora
em que tudo deve ser colocado em categorias mutuamente excludentes, dando
origem à boa parte da ciência moderna. Assim, uma baleia é considerada um
mamífero, embora se pareça com um peixe e viva na água.
Depois das tábuas
de argila a escrita encontrou um novo suporte, o papiro, muito mais fácil de
ser produzido, mas de pouca duração e difícil de ser carregado, já que os
escritos eram unidos em rolos.
O cristianismo,
uma religião proibida, encontrou em uma nova mídia a possibilidade de
divulgação. O códex era um papiro dobrado para facilitar o transporte. Alguém
teve um dia a ideia de juntar essas folhas dobradas, costurando-as e surgiu o
livro como o conhecemos hoje. Muito mais fácil de carregar do que um rolo de
papiro, esse novo suporte tinha mais uma vantagem: permitia abrir exatamente na
página de determinado trecho que interessava. Além disso, enquanto um rolo só
permitia reproduzir um evangelho, um códex podia incluir toda a Bíblia. Foi essa mudança midiática que permitiu ao
cristianismo se difundir por todo o mundo ocidental.
Na Idade Média
surgiu o pergaminho. Fabricado com peles de animais, o novo papel era muito
mais resistente e apropriado para guardar as palavras de Deus. Mas a invenção
tinha um custo: os novos livros eram muito caros. Além do preço alto do
pergaminho, a maioria deles eram ricamente ilustrados com iluminuras e
encadernados muitas vezes com capas em ouro. O livro passou a ser um tesouro
que difundia a palavra de Deus, um objeto divino, ao qual a maioria das pessoas
não tinha acesso.
Surge aí a ideia
de que o que está publicado é verdade. Como duvidar daqueles livros luxuosos,
aos quais apenas alguns monges podiam ler e interpretar. Vale lembrar que nessa
época todas as Bíblias tinham de ser escritas em Latim e era proibido
traduzi-las para as línguas nacionais.
A utilização do
pergaminho marcou a transformação do conhecimento em algo divino, ao qual
poucas pessoas deveriam ter acesso.
Essa realidade ia
mudar completamente com a invenção da imprensa. Mais uma vez a mudança na forma
das pessoas se comunicarem iria provocar grandes alterações nas relações
sociais e até na mente humana. A invenção da imprensa iria marcar a era das
revoluções, o individualismo e o nacionalismo.
Sem comentários:
Enviar um comentário