Os eternos é um ótimo exemplo de como Jack
Kirby poderia ser genial. Ele provavelmente leu o livro Eram os deuses
astronautas, de Erich Von Daniken, segundo o qual a maioria da mitologia é na
verdade, relato de visita de extraterrestres à terra e os grandes monumentos
seriam provas dessas visitas. O rei dos super-heróis pegou esse conceito e
transformou numa HQ grandiosa.
O primeiro número da revista foi
publicada pela Marvel em 1986 e aqui em 1984, na revista Superaventuras Marvel
25.
Na história, um arqueólogo e sua
filha, acompanhados de um estranho guia entram em uma caverna inca, onde se
deparam com uma escultura grandiosa que remete a uma nave espacial pilotada. O
estranho guia se revela, diz que faz parte de uma raça de seres poderosos, os Eternos
e conta a origem da humanidade: segundo ele, seres extraterrestres, os Celestiais,
visitaram a terra em passado remoto e transformam os primeiros humanoides,
criando as três raças: os Eternos, seres poderosos e iluminados, voltados para
a paz, os Desviantes, seres degenerados, que mudam de forma a cada geração e
são voltados para a guerra e os humanos, que vivem entre a guerra e a paz.
Muitos dos Eternos, embora sejam extremamente poderosos e imortais, vivem entre
nós disfarçados de humanos.
O guia revela também que é um
Eterno, Ikaris, e que sua função é acionar o alarme que trará de volta os
deuses enquanto um grupo de desviantes tenta impedir o chamado cósmico.
Em um única história, Kirby
estabelece todo um universo, toda uma explicação sobre a raça humana e joga as
bases de todas as histórias posteriores.
O conceito é genial.
O problema é quando começamos a
analisar o roteiro.
Para começar, não há uma única
razão para Ikaris ter ido até o templo inca acompanhando a expedição do
arqueólogo. Por que ele não foi sozinho acionar o chamado? Kirby provavelmente
fez essa opção tentando tornar a história mais humana, o que não acontece, já
que o leitor não se identifica com o arqueólogo ou com sua filha – e sequer a
história é narrada do ponto de vista deles. Aliás, o leitor não se identifica
com ninguém ali.
Uma boa história é geralmente
resultado de um processo de identificação-projeção. O leitor se idêntica com um
personagem e se projeta nele, vivendo suas aventuras com ele, como se entrasse
numa realidade virtual. O leitor vê a história do ponto de vista do personagem
com o qual deve se identificar. Aqui não há ninguém com que o leitor possa se
identificar, tudo é narrado de maneira distante e fria.
E os diálagos, ah, os diálogos.
Todas as falas são apenas narrativas ou descritivas. Todos falam igual, exceto
os vilões que sempre falam no imperativo.
Além disso um Eterno quando
encontra um humano pela primeira vez imediatamente começa a dizer quem é a
contar a sua história. Sabe aquele segredo que por séculos foi escondido da
humanidade? Um Eterno é capaz de contar para alguém na primeira vez que o vê
antes mesmo que ele pergunte.
O texto acompanha os diálogos,
continuamente descrevendo algo que o desenho já está mostrando. “O doutor e sua
filha ficam atônitos com as palavras de Ikaris” diz a narração, enquanto o
desenho mostra os dois atônitos. “Logo, uma enorme cabeça de pedra surge à sua
frente. Penetrando pela boca do dragão, a nave avança rumo a uma abertura
luminosa” quando o desenho mostra uma cabeça de pedra se abrindo e a nave
penetrando nela rumo a uma abertura luminosa.
Eternos é um exemplo de conceito
genial, com uma arte fenomenal, que carece de um bom roteirista para trabalhar
os textos e diálogos.
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