sábado, janeiro 25, 2020

Eu era meio Steve Rogers



Quando eu era criança, eu era meio Steve Rogers. Ou seja, magro como um varapau. E, da mesma forma que Steve Rogers, eu era vítima preferencial do valentão da turma.
As surras aconteciam geralmente nos dias de entrega de notas, o que talvez fosse explicado pelas minhas boas notas e pelas inevitáveis notas vermelhas dele.
Mas talvez tivesse a ver com o fato de que eu não fugia nem me humilhava. Como Steve Rogers, eu apanhava de cabeça erguida. Mas se Steve Rogers podia fazer isso o dia inteiro, eu simplesmente cansei de apanhar.
Um dia mostrei a outra face e fiz um longo sermão sobre como Jesus reprovava a violência. Como bom cristão, ele resolveu não me bater.
Naquele dia.
No dia seguinte, quando mostrei a face, ele bateu nela e na outra. Ele tinha aprendido como conciliar o cristianismo com as surras.
Fica a dica: oferecer a outra face é a pior alternativa se você não quiser apanhar.

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