O roteirista Grant Morrison
ficou conhecido por seu enorme esforço para virar de cabeça para baixo todos os
cânones das histórias de super-heróis. Fez com o Homem-animal histórias
metalinguísticas nas quais o personagem encontrava com o próprio criador. Fez
histórias com a Patrulha do Destino nas quais o grupo enfretava vilões
surrealistas. Então é curioso que sua melhor história tenha sido uma singela e
belíssima homenagem ao Super-homem da era de prata: Grandes astros Superman,
com desenho do monstro Frank Quitely (provavelmente o único cara que faz com
que uma imagem do homem de aço sentado em uma nuvem seja boa o suficiente para
virar capa do volume encadernado da série).
Na HQ, o herói resgata uma
nave terrestre em missão ao sol sabotada por Lex Luthor. Mas é tudo uma trama
do vilão. A proximidade com o sol tanto dá novos poderes ao personagem como faz
com que suas células entrem em colapso, condenando-o à morte.
Morrison constrói sua
narrativa como se o personagem estivesse cumprindo tarefas épicas, como os 12
trabalhos de Hércules. Morrison usa esse plot para revisitar boa parte da
mitologia do personagem em uma história tocante.
Claro, há os maneirismos
morrisianos, mas aqui elas parece apenas divertidas, não pretensiosas, a
exemplo do momento em que Luthor diz que Moby Dick pode ser recitada a frequências
tão altas que se torna uma perfuratriz sônica capaz de escavar a rocha.
No geral tudo é uma bela
homenagem, a começar pela forma carinhosa como o alter ego do Superman, Clark Kent
é retratrado.
Morrison e Quitely pensaram
Clark Kent como um caboco do interior, enorme e acostumado com espaços amplos.
Assim, ele sempre está sempre batendo em alguém ou derrubando algo. Mas essas aparentes
desatenções são, na verdade, uma forma de ajudar outras pessoas, como o senhor
que ia ser atropelado e não o é porque Kent se choca com ele antes que atravesse
a rua.
Nesse sentido, um dos
capítulos mais interessante é justamente aquele em que Clark Kent vai
entrevistar Luthor na cadeia.
Arrogante, Luthor jura que
está no controle de tudo e não percebe as diversas vezes em que é salvo pelo
desastrado herói. Os mais antigos vão perceber o quanto essa visão sobre o
personagem lembra a interpretação de Christopher Reeve no clássico filme de
1978.
Grandes astros tem de tudo:
desde aventura pura a romance (o capítulo em que o Super dá poderes a Lois Lane
é belo e divertido) e puro drama, como no capítulo focado no pai adotivo do superman.
E, para não dizer que
Morrison usa termos científicos apenas como forma de fazer com que suas HQs
pareçam mais cabeça, o uso da arma gravitacional no último capítulo é um ótimo
exemplo de algo que funciona bem na trama e, ao mesmo tempo, é cientificamente
correto, guardadas as devidas proporções.
Grandes astros superman é
uma daquelas obras para ter na estante (e vale destacar a belíssima edição capa
dura da Panini), ler e reler.
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