Uma das características fascinantes em jornada nas
estrelas é a criatividade de seus roteirista para imaginar outras civilizações
e suas culturas. Ótimo exemplo disso é o episódio Um gosto de Armagedom, da
primeira temporada.
Na história Kirk e uma equipe de tripulantes vai
parar em um planeta em guerra há 500 anos com outro planeta. Durante a visita
há um ataque, mas não há qualquer indício de nada acontecendo. É quando
descobrem que as batalhas são travadas de forma virtual e um computador calcula
quais as baixas de cada lado e faz uma lista de vítimas, que são levadas a um
desintegrador.
Para piorar as coisas, a Enterprise é considerada
com uma baixa de guerra e toda sua tripulação deve ser morta para cumprir o que
foi designado pelo computador.
Kirk deve agir para salvar sua população, o que
inclui, claro, muitas lutas mal coreografadas com guardas que parecem ter saído
de alguma matinê de flash Gordon.
Mas por trás dessa pirotecnia, o episódio é um dos
mais interessante do ponto de vista filosófico. Há muitas questões
interessantes. A primeira delas é o fato dessa guerra limpa, que teoricamente
parece mais civilizada, é justamente a razão do conflito ter durado 500 anos.
Quando o ciclo é quebrado, as partes se apressam em debater um armistício.
Nesse sentido há uma inversão interessante, pois o bárbaro Kirk com sua
diplomacia de faroeste é justamente o que pode levar à paz.
Outro aspecto interessante é imaginar como pessoas
se submeteriam a morrer para cumprir uma cota de uma guerra fictícia travada
por generais como quem joga xadrez. Ao mostrar isso de maneira crua, o episódio
cria uma metáfora que nos faz refletir sobre a crueza da guerra. Afinal, na
verdade não é isso que acontece? Generais movimentam as peças da guerra e como
consequência as pessoas morrem. Embora pareça destino, não é.
Por fim, o aspecto talvez mais interessante: o episódio
mostra como o simulacro comanda o real a ponto do real ter que se adaptar a
ele. Se alguém morreu no jogo da guerra, e premente que morra no mundo físico.
E pensar que esse episódio foi escrito muito antes da internet.
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