Quais são os cientistas mais
importantes de todos os tempos? É a essa pergunta que John Simmons pretende
responder no volume Os 100 Maiores Cientistas da História, lançado recentemente
pela editora Difel.
É uma tarefa ingrata, pois,
por melhor que seja a seleção, sempre faltarão nomes importantes. Entretanto, o
resultado é muito positivo, pois nos dá um volume com a biografia de 100
pessoas que contribuíram para o crescimento dessa forma de pensar e ver o mundo
chamada ciência.
Simmons sabe do que fala. Há
mais de quinze anos ele escreve para a revista Current Biography, para a qual
produz textos sobre os ganhadores do prêmio Nobel em ciência. Foi escritor e
produtor da série Mind, um program de TV Educativo.
O livro, apesar do tamanho
(mais de 500 páginas), é uma leitura rápida e agradável, pois é possível ler os
capítulos com as biografias separadamente, sem seguir qualquer ordem. O livro
é, assim, perfeito, para quem gosta de ciência e quer conhecer um pouco melhor
a vida dos grandes cientistas.
E o leitor médio vai acabar se
surpreendendo com fatos curiosos sobre as vidas dos cientistas. Ele saberá, por
exemplo, que Newton, ao morrer, deixou mais de um milhão de palavras sobre
misticismo e alquimia e que, em 1952, Einstein recusou a oferta de se tornar
presidente de Israel.
O leitor médio também
conhecerá figuras pouco exploradas pela mídia, mas que tiveram grande
importância para o avanço da ciência. Entre eles, Lucrécio, um filósofo
epicurista, anterior a Cristo, que lançou as bases da teoria atômica. Saberá,
por exemplo, que Lucrécio tinha seis princípios básicos, entre os quais:
1 - O mundo é composto de
átomos, que estão em constante movimento;
2 - Os objetos, que podem ser
vistos e tocados, são feitos de diferentes tipos de átomos;
3 - A mente nasce e deverá
morrer; não existe vida após a morte; a imaginação do inferno é uma projeção do
sofrimento passado na Terra;
4 - A superstição é derivada
da ignorância.
Para os que têm uma noção um
pouco mais aprofundada da ciência, o divertido é descobrir as omissões. E são
muitas, a maioria inexplicáveis. Por exemplo: Freud está na lista (é o sexto),
mas Jung não.
É possível defender o autor se
acreditarmos que a ênfase é sobre cientistas das áreas de exatas e naturais,
mas mesmo assim ainda é possível encontrar omissões incompreensíveis. Um
exemplo gritante é John von Newman. Ele é creditado como autor cibernético,
criador da teoria dos jogos e inventor do computador. Ora, na cibernética temos
um autor mais importante que ele, Norbert Wiener. Quanto aos computadores, é
inexplicável a ausência de Alan Turing na lista. Sobre a teoria dos jogos, John
Nash, ganhador do prêmio Nobel de economia (e inspiração para o filme Uma Mente
Brilhante) também é uma ausência inexplicável.
No campo da lingüística, Noam
Chomski aparece, mas a lista omite Ferdinand de Saussure e, principalmente,
Charles Pierce. Ambos foram criadores da semiótica e tiveram uma influência
muito mais duradoura.
Nenhum dos cientistas da
chamada Teoria do Caos entra na lista, o que é mais do que uma injustiça. A
Teoria do Caos é um novo paradigma, que está mudando completamente a maneira
como vemos o mundo e tem tido influência em campos tão distintos quanto a
medicina e a economia. Minha aposta para a lista, para representar os teóricos
do caos, seria o matemático polonês Benoit Mandelbrot, o criador da geometria
fractal.
Além do interesse óbvio de
conhecer um pouco mais sobre as mentes que fizeram nossa civilização, há um
outro, descobrir padrões na história de todos eles. O próprio autor nos dá
algumas pistas na introdução, ao dizer que, "Com alguma exceções - Michael
Faraday, a mais conhecida - nenhum deles nasceu num ambiente de pobreza. Na
verdade, vieram de origens abastadas ou lares de bom nível, em que a busca de
valores intelectuais era altamente apreciada. A maioria, em Os 100 Maiores
Cientistas da História, era prezada e encorajada por seus pais e, ainda
criança, teve inúmeros passatempos, como colecionar isentos, observar pássaros,
aprender álgebra ou cálculo e construir".
Ou seja, a grande lição do
livro é que, mesmo a melhor mente não se desenvolve se não tiver estímulo tanto
material quando intelectual. Não é de admirar, portanto, que os maiores gênios
surjam em países ricos. E que o Brasil não tenha um único representante na
lista. Quantas e quantas crianças poderiam ser grandes gênios da ciência, mas
se perdem em meio à pobreza, más condições de vida, fome e falta de qualquer
estímulo intelectual. Se esse quadro, tão comum no Brasil, não for mudado em
breve, talvez em pouco tempo não entremos nem mesmo na lista dos 1000 maiores
cientistas.
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