terça-feira, janeiro 14, 2020

Os templários, de Pier Paul Read


Os templários protagonizaram um dos momentos mais interessantes da Idade Média. Criada no período das Cruzadas, a ordem dos templários formou um poder religioso, militar e econômico. Depois foram perseguidos pelos próprios cristãos que pretendiam representar. Perseguidos pelo rei Francês Filipe IV, os templários confessaram, sob tortura, blasfêmia, heresia e sodomia. Em 1312 o papa ClementeV extinguiu a ordem.
            De lá para cá, os templários passaram a fazer parte da imaginação do ocidente. Wagner mostrou-os com valorosos defensores do Santo Graal na ópera Parsifal. Walter Scott fez deles os vilões do romance Ivanhoé. Há quem acredite que os Templários ainda existem e engendram um plano para dominar o mundo. Esse é um dos pontos fundamentais da trama de O Pêndulo de Foucault, de Umberto Eco.
            Píer Paul Read pretende, em Os Templários, separar o mito da realidade e mostrar a verdadeira face dessa poderosa ordem medieval. Formado em história pela prestigiada universidade de Cambridge, Read volta ao tempos bíblicos e reconstitui a história, passando por todos os personagens e eventos que, de alguma forma, tiveram importância para as cruzadas.
            A obra inicia com a história de Jerusalém. Todos os mapas da Idade Média mostravam essa cidade como o centro do mundo. Não é para menos. Ela era a cidade sagrada para três religiões: o cristianismo, o judaísmo e o islamismo.
            No século XI, Jerusalém era o principal destino dos peregrinos cristãos. Para muitos, a peregrinação era uma espécie de martírio, que assegurava a salvação a quem fizesse o caminho para  a Terra Santa. Às vezes ela era imposta a algumas pessoas como penitência por pecados graves.
            A Igreja estimulava a peregrinação, vista como o clímax da vida espiritual do homem cristão.
            Mas a viagem era um empreendimento caro e perigoso. A forma mais rápida de chegar à cidade santa era ir pelo mar, de navio, mas havia o perigo dos piratas e dos naufrágios. Por terra, assim que o viajante chegasse penetrasse na Síria islâmica,  corria o risco de ser molestado e de ser obrigado a pagar onerosos pedágios.
            Os problemas enfrentados pelos peregrinos foram o principal motor da Primeira Cruzada. Mas o Papa Urbano II, ao fazer o apelo aos cristãos para que libertassem Jerusalém da influência dos mouros, tinha na mente outro objetivo: dar vazão ao excesso de energia da classe guerreira francesa.
            Na França do século XI a maioria das contendas era resolvida na espada. Eram comuns os ataques às colheitas e aos animais vizinhos.
            Ora, pensou o Papa, já que os Francos brigam tanto entre si, por que não coloca-los para pelejar contra um inimigo comum?
            A comunicação do Papa ao mundo cristão era a verdadeira convocação de uma guerra santa. Ele prometeu que aqueles que se empenhassem na causa com espírito de penitência teriam seus pecados perdoados e obteriam total remissão das penitências terrenas impostas pela igreja.
            O comunicado teve influência avassaladora. O homem da Idade Média vivia com medo real dos tormentos do inferno. Se o Papa oferecia a oportunidade de fugir do inferno matando islâmicos, isso era uma chance para não se perder.
            O resultado imediato foi completamente diferente do esperado pelo vaticano.
            Não foram os cavaleiros que primeiro atenderam ao pedido do Papa, e sim o populacho. Vários pregadores populares inflamaram os pobres e formaram um exército mal armado e sem disciplina que, sem mais nem menos, partiu para subjugar os sarracenos e libertar Jerusalém.
            Piers Paul Read conta que muitas esposas trancavam seus homens para que eles não fossem à cruzada, mas assim que eles ouviam o que estava sendo oferecidos, pulavam pela janela e tomavam a cruz.
            O resultado foi catastrófico. Sem saber exatamente o que faziam, os cruzados iam atacando comunidades judaicas que encontravam pela frente, embora os judeus não tivessem qualquer relação com os acontecimentos de Jerusalém. Pode parecer irracional, mas é um comportamento muito semelhante ao do americano que pega uma caminhonete e se choca contra uma mesquita acreditando que todo islâmico é responsável pelos ataques ao Word Trade Center.
            A cruzada de Pedro o Eremita teve fim em 21 de outubro de 1096 quando, sob ataque dos turcos, os cruzados foram derrotados e os sobreviventes transformados em escravos.
            Melhor sorte teve a cruzada seguinte, que tomou Jerusalém, mas ainda assim a vida dos peregrinos não era fácil. As estradas eram tomadas de salteadores. Para protege-los surgiu a ordem dos Pobres Soldados de Cristo, que mais tarde seria chamada de Os Templários.
            É a partir desse ponto que Read se estende mais. Ele conta a história da ordem, dos seus dias de glória à época da perseguição oficial.
            Em tempos de guerra santa e luta do ocidente contra o Islã, o livro “Os Templários” é essencial. Um livro para se ler e refletir como o homem não evoluiu. Mudam-se as armas, mas as guerras continuam igualmente irracionais.

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