Os templários protagonizaram um dos momentos mais
interessantes da Idade Média. Criada no período das Cruzadas, a ordem dos
templários formou um poder religioso, militar e econômico. Depois foram
perseguidos pelos próprios cristãos que pretendiam representar. Perseguidos
pelo rei Francês Filipe IV, os templários confessaram, sob tortura, blasfêmia,
heresia e sodomia. Em 1312 o papa ClementeV extinguiu a ordem.
De lá para
cá, os templários passaram a fazer parte da imaginação do ocidente. Wagner
mostrou-os com valorosos defensores do Santo Graal na ópera Parsifal. Walter
Scott fez deles os vilões do romance Ivanhoé. Há quem acredite que os
Templários ainda existem e engendram um plano para dominar o mundo. Esse é um
dos pontos fundamentais da trama de O Pêndulo de Foucault, de Umberto Eco.
Píer Paul
Read pretende, em Os Templários, separar o mito da realidade e mostrar a
verdadeira face dessa poderosa ordem medieval. Formado em história pela
prestigiada universidade de Cambridge, Read volta ao tempos bíblicos e
reconstitui a história, passando por todos os personagens e eventos que, de
alguma forma, tiveram importância para as cruzadas.
A obra
inicia com a história de Jerusalém. Todos os mapas da Idade Média mostravam
essa cidade como o centro do mundo. Não é para menos. Ela era a cidade sagrada
para três religiões: o cristianismo, o judaísmo e o islamismo.
No século
XI, Jerusalém era o principal destino dos peregrinos cristãos. Para muitos, a
peregrinação era uma espécie de martírio, que assegurava a salvação a quem
fizesse o caminho para a Terra Santa. Às
vezes ela era imposta a algumas pessoas como penitência por pecados graves.
A Igreja
estimulava a peregrinação, vista como o clímax da vida espiritual do homem
cristão.
Mas a
viagem era um empreendimento caro e perigoso. A forma mais rápida de chegar à
cidade santa era ir pelo mar, de navio, mas havia o perigo dos piratas e dos
naufrágios. Por terra, assim que o viajante chegasse penetrasse na Síria
islâmica, corria o risco de ser
molestado e de ser obrigado a pagar onerosos pedágios.
Os
problemas enfrentados pelos peregrinos foram o principal motor da Primeira
Cruzada. Mas o Papa Urbano II, ao fazer o apelo aos cristãos para que
libertassem Jerusalém da influência dos mouros, tinha na mente outro objetivo:
dar vazão ao excesso de energia da classe guerreira francesa.
Na França
do século XI a maioria das contendas era resolvida na espada. Eram comuns os
ataques às colheitas e aos animais vizinhos.
Ora, pensou
o Papa, já que os Francos brigam tanto entre si, por que não coloca-los para
pelejar contra um inimigo comum?
A
comunicação do Papa ao mundo cristão era a verdadeira convocação de uma guerra
santa. Ele prometeu que aqueles que se empenhassem na causa com espírito de
penitência teriam seus pecados perdoados e obteriam total remissão das
penitências terrenas impostas pela igreja.
O
comunicado teve influência avassaladora. O homem da Idade Média vivia com medo
real dos tormentos do inferno. Se o Papa oferecia a oportunidade de fugir do
inferno matando islâmicos, isso era uma chance para não se perder.
O resultado
imediato foi completamente diferente do esperado pelo vaticano.
Não foram
os cavaleiros que primeiro atenderam ao pedido do Papa, e sim o populacho.
Vários pregadores populares inflamaram os pobres e formaram um exército mal
armado e sem disciplina que, sem mais nem menos, partiu para subjugar os
sarracenos e libertar Jerusalém.
Piers Paul
Read conta que muitas esposas trancavam seus homens para que eles não fossem à
cruzada, mas assim que eles ouviam o que estava sendo oferecidos, pulavam pela
janela e tomavam a cruz.
O resultado
foi catastrófico. Sem saber exatamente o que faziam, os cruzados iam atacando
comunidades judaicas que encontravam pela frente, embora os judeus não tivessem
qualquer relação com os acontecimentos de Jerusalém. Pode parecer irracional,
mas é um comportamento muito semelhante ao do americano que pega uma
caminhonete e se choca contra uma mesquita acreditando que todo islâmico é
responsável pelos ataques ao Word Trade Center.
A cruzada
de Pedro o Eremita teve fim em 21 de outubro de 1096 quando, sob ataque dos
turcos, os cruzados foram derrotados e os sobreviventes transformados em
escravos.
Melhor
sorte teve a cruzada seguinte, que tomou Jerusalém, mas ainda assim a vida dos
peregrinos não era fácil. As estradas eram tomadas de salteadores. Para
protege-los surgiu a ordem dos Pobres Soldados de Cristo, que mais tarde seria
chamada de Os Templários.
É a partir
desse ponto que Read se estende mais. Ele conta a história da ordem, dos seus
dias de glória à época da perseguição oficial.
Em tempos
de guerra santa e luta do ocidente contra o Islã, o livro “Os Templários” é
essencial. Um livro para se ler e refletir como o homem não evoluiu. Mudam-se
as armas, mas as guerras continuam igualmente irracionais.
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