Em 1954 a paranormal norte-americana Dorothy
Martin revelou que tinha sido alertada por extraterrestre que o mundo seria
destruído. Segundo ele, à meia noite do dia 20 de dezembro, um alienígena surgiria
para salvar seus discípulos. Todo o resto da humanidade seria extinto.
Mas quando deu meia-noite, nada aconteceu. Não
surgiu nenhum extraterrestre salvador e a humanidade não pereceu.
Dorothy Martin previu o fim do mundo |
Dois
psicólogos que haviam se infiltrado no grupo ficaram curiosos para saber o que
aconteceria a seguir. Afinal, havia uma evidência inconstestável de que a
profecia era apenas uma mentira bem contada. Era inevitável que deixassem de
acreditar na paranormal. Entretanto, o que aconteceu foi exatamente o
contrário. A médium anunciou que o fim do mundo havia sido cancelado por causa
das orações de seus seguidores.
O grupo ficou em êxtase. Eles tinham salvo o
mundo. Alguns seguidores começaram a ligar para a imprensa para anunciar a
novidade.
Um dos psicólogos presentes ao evento, Leon
Festinger, chamou esse fenômeno de dissonância cognitiva: quando os fatos
contradizem aquilo que acreditamos, mudamos os fatos para adequá-los às nossas
crenças. E não só isso: também ignoramos qualquer fato que contradiga essa
crença.
Bom exemplo desse processo de adaptar à
realidade às crenças tem ocorrido com relação à pandemia de coronavírus.
No dia 10 de março, o presidente do Brasil, em
viagem aos EUA, afirmou em entrevista coletiva que o coronavírus não era tudo
isso e que a pandemia era fantasia criada pela mídia (posteriormente ele diria
que era só uma gripezinha).
Como resultado milhões de pessoas passaram a
acreditar que a doença (que nessa época já estava fazendo vítimas na Itália) não
oferecia risco nenhum. Era só uma gripezinha que, provavelmente nunca chegaria
ao Brasil.
Quando a doença já estava instalada no Brasil e
já havia até mortes, o discurso mudou, mas era de novo uma alteração nos fatos
para adequá-los às crenças. Agora pegava-se as mortes durante todo um ano de
H1N1 e comparava-se com as mortes de uma semana de coronavírus para argumentar
que a H1N1 matava mais.
Depois, quando o número de mortes diárias se
tornou grande demais para esconder, começaram a dizer que o ministério da saúde
tinha orientado para que toda e qualquer morte fosse creditada como sendo
provocada pelo coronavírus (por mais contraditório que isso seja, uma vez que o
ministério da saúde é do governo federal).
Depois, como era necessário exemplificar essa
versão, passaram a dizer que o primo do porteiro do prédio morreu trocando um pneu
e foi diagnosticado com coronavírus. De repente, em um único dia centenas de
primos de proteiros de prédio foram assassinados por pneus.
Deus
queira que isso não aconteça. Mas se o apelo dos médicos e cientistas for
ignorado e a situação do Brasil se tornar equivalente à da Itália, os
bolsominions vão dizer que seu ídolo sempre advertiu do perigo da pandemia e
que fez tudo que podia para impedir sua propagação no Brasil. E não vão só
dizer. Vão acreditar. Dissonância cognitiva.
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