A coleção O cotidiano da história,d a editora Ática,
tinha como objetivo contar, de forma agradável e atraente, fatos importantes da
história do Brasil. Eram edições ilustradas, com diagramação inovadora e textos
de alguns dos grandes autores infanto-juvenis brasileiros. Um dos volumes de
destaque é Proclamação da República, escrito por Marcos Rey.
Marcos Rey é um escritor de narrativa fluída,
que torna até mesmo um tema pouco atrativo, como a proclamação da república
(que foi, essencialmente, uma quartelada sem qualquer ação real) em uma delícia
de leitura.
Rey adota como estratégia contar os fatos do
ponto de vista de um personagem que teria presenciado os acontecimentos. No caso,
um jornalista, Antônio Brotero, o Broteirinho. Trabalhando no jornal
republicano O País, Broteirinho resolve abadonar sua coluna de resenhas literárias
para se dedicar às notícias políticas exatamente no período em que o Brasil se
convulsiona. Com o aval do diretor do jornal, Quintin Bocaiúva, ele invade o
clube militar durante uma reunião do alto oficialado, que conspira contra D. Pedro,
o baile de ilha fiscal (festa suntuosa que marcaria o fim da monarquia) e acompanha
a movimentação dos quarteis que levariam à instalação da república e o exílio
de D. Pedro II. A ação é mínima: um combate mequetrefe entre o exército e a
marinha que termina com um ferido, mas Marcos Rey conta tudo como se estivesse
narrando um folhetim.
O autor também não se furta a alguns comentários
sobre o evento. Por exemplo, quando o protagonista ouve as falas na reunião do
clube militar, pensa: “A República, sem dúvida, estava próxima, mas não a do
moderado Quintino Bocaiúva, nem a do radical Silva Jardim; a julgar por aquela
reunião, excluiria as elites civis e a participação popular, correndo o risco de
tornar-se uma ditadura, rígida, que talvez fizesse o País ter saudades do Império”.
Como dizia o jornalista Silva Jardim, “falta povo nessa revolução”.
Como é um livro para adolescentes e para ser
usado em escolas, o autor deixa de fora muitas fofocas históricas (como o fato
de que Marechal Deodoro e o Visconde de Ouro Preto (primeiro ministro do Império)
tinha disputado a mesma mulher e, portanto, tinham rivalidade antiga. Ainda assim,
é um livro que prende a atenção.
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