terça-feira, junho 16, 2020

A pedagogia tradicional

Na educação tradicional, o professor fala e o aluno ouve.
A pedagogia tradicional não é fruto das idéias de um filósofo ou pensador específico, mas de uma prática que se estende ao longo dos séculos.
            Esse paradigma da educação é altamente influenciado pelo pensamento cartesiano e pela visão mecanicista e determinada do mundo.
            Para a pedagogia clássica, a criança era uma tábula rasa na qual o professor imprimia as informações sobre o mundo. Essas informações eram baseadas nas grandes realizações de gênios e pensadores do passado, vistos como modelos a serem imitados.
            Entre os seus princípios básicos estão: a estrutura piramidal, o formalismo e a memorização, o esforço e a competição e o respeito à autoridade.
            A estrutura piramidal vem do princípio cartesiano segundo o qual, para resolver um problema, é necessário separá-lo em partes e resolve-las uma a uma, indo das mais simples às mais complexas. Esse princípio reza que a criança é incapaz de apreender a complexidade e, portanto, os conteúdos devem ser repassados em pequenos fragmentos.
            O formalismo e a memorização são uma das bases dessa prática pedagógica. Uma vez que a pedagogia clássica acredita que o aluno deve seguir um modelo, a memorização é o melhor caminho para faze-lo. Para garantir que o aluno memorizou, o mestre toma a lição do aluno, que deve responder repetindo com exatidão o que foi dito em sala de aula.
            O esforço, para esse paradigma, é necessário à educação. Para estimulá-lo, os alunos que conseguem seguir os modelos recebem prêmios (medalhas, distinções, quadro de honra) e os que não conseguem devem ser castigados. Ao aluno não é ensinado a cooperar, mas a competir. As atividades são feitas individualmente (a maioria delas simples reproduções do conteúdo repassado), e não em grupo.
            O respeito à autoridade nos diz como a pedagogia tradicional vê a atuação do professor. Ele é um depositário de conhecimentos, uma autoridade, um modelo, que reflete os modelos do passado glorioso da humanidade (os grandes filósofos, grandes cientistas).
A escola é organizada na forma de uma pirâmide em que o aluno encontra-se sujeito à autoridade do professor e este sujeito à autoridade do inspetor e este sujeito à autoridade do diretor, em graus hierárquicos sucessivos típicos daquilo que Marshall McLuhan chamou de Galáxia de Gutemberg, em que a informação classificadora é mais importante que a informação relacional ou a informação relevante.
            A principal metodologia de ensino é a aula expositiva e a demonstração do professor à classe, tomada como auditório passivo. Ao aluno cabe apenas receber passivamente as informações transmitidas pelo professor e repeti-las corretamente. Paulo Freire chamou essa pedagogia de educação bancária, pois o professor “deposita”os conteúdos na cabeça dos alunos.
            A avaliação é uma forma de verificar se o aluno reteve o conhecimento repassado pelo professor, e não uma oportunidade de reelaborar o conhecimento. Se o aluno não conseguiu decorar o que o professor passou, é punido com uma nota baixa (antigamente a punição incluía até castigos físicos). Na sua versão mais difundida, a avaliação é feita pontualmente, através de prova.  Em um único momento, o aluno é testado e seu desempenho no processo de aprendizagem tem pouca importância na avaliação.
            A sala de aula é vista como local privilegiado de aprendizado e as experiências exteriores a ela são pouco valorizadas.
            Embora venha sendo criticada há mais de um século, a pedagogia tradicional está presente em quase todas as salas de aula. A maioria dos colégios e faculdades, apesar do discurso, ainda privilegia a pedagogia tradicional. Os professores são estimulados a repassarem avaliações tradicionais, o que facilita o processo burocrático interno. Além disso, a maioria das instituições ainda vê a sala de aula como o único local possível de aprendizagem, daí a exigência de cumprimentos de horários na sala, em detrimento das possibilidades exteriores ao ambiente escolar (pesquisas, passeios, participação em eventos). A palmatória se foi, mas a educação tradicional ainda continua arraigada na prática escolar.

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