terça-feira, junho 16, 2020

Coleção histórica Marvel: Mestre do Kung Fu


Esta é, provavelmente, a série mais aguardada da coleção histórica Marvel. Afinal, o Mestre do Kung Fu era um dos personagens mais queridos pelos leitores e estava fora das bancas há muito, muito tempo.
Este volume reúne as primeiras histórias do personagem que, criado na onda dos filmes de Kung Fu, sobreviveu à moda e se tornou uma das revistas mais longevas da Marvel, sendo publicada por mais de uma década.
Shang Chi foi criado por Steve Englehart e Jim Starlin, dois dos artistas mais revolucionários da época em que os hippies tomaram conta da Marvel. Os dois viram no sucesso do seriado Kung Fu, com David Carradine, a chance de criar uma série sobre filosofia oriental e procuraram o editor, Roy Thomas, que os alertou que a série pertencia à Warner, que não só não autorizaria a adaptação, como ainda poderia alertar a DC para lançar o gibi.
De alguma forma, a DC soube da história e o Publisher da editora, Carmine Infantino, teria dito: “Se eles lançarem Kung Fu, nós fazemos o Fu Manchu”.
Fu Manchu era um vilão clássico dos pulp fictions e cairia bem nessa nova onda de interesse pelo oriente. Alguém alertou Roy Thomas sobre isso e este comprou os direitos sobre Fu Manchu.
Assim, quando a nova revista foi lançada, seu protagonista, Shang Chi, seria um filho de Fu Manchu rebelado contra o pai. Essa união deu à série características próprias, misturando artes marciais com espionagem e uma relação conflituosa entre pai e filho numa época em que todas as histórias de sucesso tinham essa característica (a exemplo de Star Wars).
Englehart e Starlin ficaram pouco tempo no título, mas providenciaram as bases para o estilo da revista. As históris sempre iniciavam no auge da ação e flash backs contavam como se chegou ali. Além disso, o texto, poético, ecoavam a estética dos koans: “A espada do samurai canta atrás de mim como a canção de um beija-flor”. Starlin fazia sequências de ação com letras chinesas ao fundo. Parecia que os dois estavam tentando se afastar do estilo dos super-heróis e se aproximar de alguma outra estética. Ainda assim, soava estranho, em especial os desenhos de Starlin, que sempre foi melhor desenhando sagas estelares.
A revista só ganhou vida própria com a entrada de Paul Gulacy. Apesar do desenho inconstante, muitas vezes calcado no estilo de Jack Kirby e com erros de anatomia e perspectiva no início, ele logo mostrou que era o artista ideal para o projeto. A sequência em que o herói sofre uma alucinação provocada por uma droga misturada com gasolina por seu pai (em um dos planos mirabolantes para escravizar os Estados Unidos) é um dos grandes momentos do álbum. Englehart não se atreveu nem mesmo a colocar texto na imagem, deixando que o desenho transmitisse tudo que a história pedia.
Posteriormente estaria formada a dupla clássica com a entrada do roteirista Doug Moench (antes disso haveria uma desajeitada história escrita por Gerry Conway, que parecia não ter entendido o personagem). Moench a princípio imitou o estilo de Englehart, mas aos poucos foi construindo seu próprio estilo.
Este álbum certamente vai agradar aos saudosistas e apresentar o personagem a toda uma nova geração que infelizmente não o conhecia. Por si só já teria o seu valor. De negativo, apenas a falta de textos explicativos e históricos. Considerando-se o tempo que o personagem não é publicado aqui, esses textos seriam de grande valor.

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