segunda-feira, agosto 31, 2020

A ceia dos acusados



Dashiell Hammett foi o criador do estilo policial noir. Ele foi detetive da famosa agência Pinkerton e ficava encucado com a forma pouco realista como as histórias policiais eram narradas, com detetives que resolviam tudo usando apenas a lógica. 
Ao resolver colocar no papel sua prática, acabou colocando também sua visão de mundo em que todos pareciam ter um segredo sórdido a esconder. Também foi o responsável por criar o perfil do detetive cínico, as mulheres fatais e a maioria da características do cinema noir.
Um bom exemplo do estilo Hammett é A ceia dos acusados, de 1934, no qual um ex-detetive se vê envolvido com um caso de assassinato. A secretária de um inventor é morto e este o contrata (através de um advogado) para ajudar a descobrir o assassino. Ocorre que o inventor é o principal suspeito e, como um fantasma, passa o livro todo sem que nem mesmo a polícia seja capaz de achá-lo.
Hammett é habilidoso para nos dar pistas o tempo todo (o próprio título original, O homem magro, é uma grande pistas), mas nós não prestamos atenção. Na verdade, em certo ponto o livro começa a parece óbvio demais. Tudo vai em determinado caminho... até a revelação final, que é absolutamente inesperada.
Um destaque vai para os personagens, a maioria deles totalmente corruptos e parecem estar mentindo o tempo todo. Mimi, por exemplo, é o paradigma do noir: ela mente e ao ser descoberta, inventa outra mentira, ao ver que essa segunda mentira foi descoberta, mente de novo, a ponto de não se saber quando ela diz a verdade.
Eu relutei muito tempo a ler esse livro por uma razão estilística: a tradução é de Monteiro Lobato, que tem um estilo bem diverso do de Hammett e tem fama de impor seu estilo aos autores traduzidos. Ocorre que A ceia dos acusados é um livro baseado em diálogos (ótimos, por sinal) e nisso a tradução de Lobato interfere pouco. Provavelmente o ponto negativo da tradução foi no título, que tem pouco a ver com o conteúdo.
Em tempo: o livro virou filme no mesmo ano em que foi lançado, só para dar uma ideia do impacto de Hammett sobre Hollywood. Confesso que não assisti a essa versão cinematográfica.

Sem comentários: