Quando pensamos em máquinas dominando o mundo,
pensamos em robôs assassinos destruindo a civilização e dizimando pessoas. Mas
talvez as máquinas já estejam dominando e destruindo o mundo, mas fazendo isso
através das redes sociais. Esse é o grande alerta do documentário O dilema das
redes sociais, de Jeff Orlowski.
Numa estrutura que mistura depoimentos com
narrativa ficcional, o documentário traça uma trajetória do surgimento das
redes, a forma encontrada para fazer com que elas se transformassem em negócios
e a forma como elas dominaram a humanidade. O entrevistados são pessoas de
peso, algumas das quais foram essenciais para esse fenômeno, incluindo ex-diretores
do Google, Facebook e Twitter (todos os entrevistados simplesmente proíbem seus
filhos de usarem redes sociais).
O maior problema dessas redes é que elas são
algoritmos sem controle humanos criados com objetivo de fazer com que as
pessoas fiquem o máximo de tempo na tela e que esse tempo seja vendido a quem
pague melhor para quem quiser influenciar o comportamento dessas pessoas. Essa influência
pode ser para comprar determinado produto ou fazê-las acreditar em algo.
O doc tem algumas informações impressionantes,
como o aumento de depressão e de suicídios entre adolescentes que coincide com
o surgimento das redes sociais – resultado direto da pressão por aceitação
social através dos likes.
Mas o que mais impressiona é o resultado político
disso. Notícias falsas têm seis vezes mais visualizações do que notícias
verdadeiras. É da natureza humana querer preferir algo impressionante a algo
corriqueiro. O problema é que o algoritmo, vendo isso, decide dar cada vez mais
visibilidade para essas notícias falsas e teorias da conspiração como forma de
gerar engajamento e, com isso, cada vez mais lucros. E algumas pessoas pagam
para repassar novas teorias da conspiração para quem já está recebendo teorias
da conspiração. O resultado estamos vendo aí: um aumento cada vez maior de
pessoas que acreditam que a terra é plana, movimentos anti-vacina e o retorno
de doenças erradicadas, como o sarampo.
O ápice disso foi a notícia falsa Pizzagate,
segundo a qual porões de pizzarias norte-americanas estavam sendo usadas para
traficar crianças – o que fez com que pessoas invadissem armadas pizzarias que
sequer tinham porões.
Por outro lado, o radicalismo político também
provoca um grande engajamento e com mais tempo nas redes, aumenta o lucro, então,
as redes sociais estimulam ainda mais o radicalismo político, expondo as
pessoas apenas a posts e notícias que concordam com suas ideias radicais. Com
certeza você deve conhecer pessoas que postam o dia inteiro sobre política e só
postam sobre isso. E o resultado estamos vendo aí: antigamente pessoas de espectro
político totalmente diferentes conversavam e eram até amigas. Hoje o nível de
radicalização chegou a um ponto que tornou isso impossível.
Essa mistura de radicalismo político com profusão
de notícias falsas pode ser a fórmula para o fim da humanidade? Só o tempo dirá.
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